Enogastronomia e turismo em cinco regiões imperdíveis, Douro, Ribera del Duero, Alentejo, Califórnia e Toscana

Cada região vinícola têm suas peculiaridades, com características geológicas e culturais próprias e, invariavelmente, exploradas pelo turismo. Hoje, algumas delas começam a se destacar no cenário internacional como destinos enogastronômicos, aliando qualidade de vinhos e riqueza gastronômica às atrações culturais ou belezas naturais.

Conheça cinco destinos em que os três ingredientes – vinho, gastronomia e lazer – caminham lado a lado, oferecendo a oportunidade de férias inesquecíveis, Douro e Alentejo, em Portugal, Ribera del Duero, na Espanha, Napa Valey e Santa Bárbara, na Califórnia (EUA), e Toscana, na Itália.

Os belos vinhedos que produzem os famosos vinhos Opus One, no Napa Valley.

Os belos vinhedos californianos, onde uma associação de Robert Mondavi e o Baron Philippe de Rothschild produz o famoso vinho Opus One, no Napa Valley, Califórnia (EUA)

Pelas curvas do rio Douro

Paisagens deslumbrantes, cidades históricas, vinhos de alta qualidade e culinária de dar água na boca. Tudo isso pode ser encontrado na região do Douro, em Portugal.

O Alto Douro foi classificado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. É a parte mais bonita da região. Do alto das encostas você vê o rio Douro serpenteando por entre as colinas, cobertas por vinhedos e pontilhadas por Quintas, muitas das quais oferecem a experiência de se hospedar cercado por videiras.

Os vinhedos com os tons avermelhados do outono.

Os vinhedos com os tons avermelhados do outono.

A estrada que liga o Alto Douro Vinhateiro a Peso da Régua é uma das mais bonitas rotas rodoviárias do mundo. O trecho que mais impressiona é o que liga Mesão Frio a Pinhão. A via passa por entre vinhedos, acompanhando o percurso do rio Douro e oferecendo a visão estupenda dos chamados “balcões do Douro”, os vinhedos plantados há mais de um milênio nas encostas da montanha.

O passeio pelo Douro pode começar pela cidade do Porto, distante 312 km de Lisboa de carro. A cidade tem uma gama de restaurantes de qualidade, como o DOP, do chef Rui Paula, que também está presente em Pinhão, com o restaurante DOC. O porto é ligado por ponte a Vila Nova de Gaia, que oferece a oportunidade de visitar diferentes caves, com os melhores vinhos produzidos na região. Vinho, que vinho? Vinho do Porto, claro. Há, ao longo do calçadão, várias opções de restaurantes, que permitem saborear a cozinha portuguesa olhando a beleza do Douro e da cidade do Porto, do outro lado do rio.

Rodovallho coberto por presunto pata negra com molho de lagostins.

Rodovallho, coberto por presunto pata negra com molho de lagostins, no DOP, do chef Rui Paula

Depois de passar pelo menos três dias circulando pela cidade, o ideal é seguir até a região do Alto Douro – média de duas horas de estrada –, e se hospedar em uma das quintas da região. As que oferecem as mais belas paisagens estão na região do Alto Douro.

No Douro, aproveite para circular de carro e visitar cidades como Peso da Régua, a capital oficial do Douro e sede do Instituto do Vinho do Porto; Lamego, cuja maior atração é a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, versão da famosa Bom Jesus do Monte, em Braga; e Amarante, que tem um charmoso centro histórico.

Além dos centenários vinhos do Porto, o Douro produz excelentes tintos, famosos no mundo inteiro, como o Barca Velha, considerado o melhor vinho de Portugal, e o Maria Teresa, que também briga entre os primeiros.

 

Os encantos do Alentejo e os poderosos vinhos portugueses

Belas planícies pontuadas com oliveiras, sobreiros e vinhedos, vilas históricas, gastronomia de primeira e vinhos de alta qualidade fazem do Alentejo uma região imperdível para quem visita Portugal. Melhor ainda é que tudo isso está a cerca de 100 quilômetros da capital, Lisboa. As principais cidades da região são Évora, também Patrimônio da Humanidade, Estremoz e Beja, além de outras belas vilas que merecem visita, como a pequena Monsaraz.

Évora é uma das mais bonitas cidades do Alentejo e oferece bons restaurantes.

Évora é uma das mais bonitas cidades do Alentejo e oferece bons restaurantes.

A coleção particular de Pêra Manca do proprietário do Mouraria.

A coleção particular com o vinho que é a estrela do Alentejo, o Pêra Manca, do proprietário do pequeno e espetacular Mouraria, restaurante em Évora

A região tem um charmoso ar rural, com suas Quintas e seus olivais, vinhedos e trigais. Nas estradas, dominam o sobreiro, árvore que fornece a cortiça para as garrafas de vinho. Os vinhos, aliás, são um capítulo à parte. A região produz alguns dos mais famosos rótulos de Portugal, como o Pêra Manca, a maior estrela alentejana, o Ferreirinha e o Esporão, entre outros.

Para acompanhar os bons vinhos, o Alentejo oferece uma rica culinária, com destaque para a carne de porco preto à alentejana, marinada no vinho e servida com amêijoas, espécie de marisco; as deliciosas açordas, um tipo de ‘sopa’, e pratos à base de caça e de cordeiro. É o paraíso das “Tasquinhas”, restaurantes com poucas mesas e geralmente tocados por um casal proprietário, onde um cozinha e o outro serve delícias regionais.

Os vinhedos fazem parte da paisagem do Alentejo.

Os vinhedos fazem parte da paisagem do Alentejo.

A vinícola Cartuxa, produtora do Pêra Manca, um dos grandes vinhos do Alentejo.

A vinícola Cartuxa, produtora do Pêra Manca, o mais famoso vinho do Alentejo.

Évora é uma espécie de capital do Alentejo e, com certeza, a mais bonita. As ruas medievais, com suas casas pintadas de branco e cheias de detalhes em azul e amarelo, têm belas construções, como palácios, igrejas e mosteiros. São locais que atraem muitos turistas. A cidade concentra também alguns dos melhores restaurantes do Alentejo e tem uma boa oferta de hotéis.

Carne de porco preto com amêijoas, especialidade do Alentejo.

Carne de porco preto com amêijoas, especialidade do Alentejo.

 

Ribera del Duero e os “tops” espanhóis

A Ribera del Duero é uma das regiões vinícolas mais importantes da Espanha, mas o turismo enogastronômico não é tão desenvolvido. O rio Duero, que se transforma em Douro do lado português, corta cidades da região, produtora de alguns dos melhores vinhos espanhóis, como o Vega Sicília Único, o raro Pingus e o Domínio de Ataulta. Além desses, há outros grandes rótulos, como Protos, Pesquera De Duero e Alión.

A vinícola Protos com o Castelo de Penafiel ao fundo.

A vinícola Protos, com o Castelo de Penafiel ao fundo.

Valladolid é a maior cidade da região e tem forte influência árabe. Ela conserva um interessante centro histórico, marcada pela arquitetura renascentista, composta por palácios, casas, igrejas. Destaque para a Catedral e a Plaza Mayor, do século XVI. Na cidade você também pode visitar a Casa de Cervantes, onde viveu Miguel de Cervantes, autor de D. Quixote.

Em Penafiel, em uma colina, localiza-se o famoso Castillo de Penafiel, que foi declarado Monumento Nacional, em 1917. Ele abriga o Museo Provincial del Vino, que oferece informações sobre a produção de vinhos e de como apreciá-lo.

A vista da região de cima do Castelo de Penafiel, que lembra um navio.

A vista da região de cima do Castelo de Penafiel, que lembra um navio. Veio aquele filete d’água, logo abaixo? É o Duero (nome espanhol do Douro), serpenteando rumo ao mar

O "lechazo" deve ser experimentado apenas nos locais identificados como "Asador Oficial", garantia de qualidade.

O “lechazo”, um cordeiro mamão, deve ser experimentado apenas nos locais identificados como “Asador Oficial”, garantia de qualidade. Prepare-se. É uma iguaria que deixa fortes saudades

Não deixe de saborear o lechazo (cordeiro) feito nos restaurantes identificados como ‘asador oficial’, a principal referência da culinária local, acompanhado dos potentes vinhos da região.

Califórnia, os bons vinhos do Napa Valey, o paraíso do novo mundo dos vinhos

O estado da Califórnia produz os melhores vinhos dos Estados Unidos. A pouco mais de 1h de San Francisco está o Wine Country, que reúne mais de 400 vinícolas. Duas das principais áreas produtoras são o Vale do Sonoma e o Napa Valley. Um pouco mais distante, já próximo a Los Angeles, fica a região de Santa Barbara, famosa por seus pinot noir, que inspirou o filme “Sideways”.

A placa identifica a região do Napa Valley.

A placa identifica a região do Napa Valley, com a lembrança de que “o vinho é a poesia engarrafada”.

Sonoma, pequena cidade do Vale do Sonoma, tem um centrinho charmoso, com várias lojas, principalmente de vinhos, ótimos restaurantes e prédios históricos em estilo espanhol. É essa área o lugar onde se produz o melhor vinho da cepa Zifandel do mundo. Pode ser visitada a caminho do Napa Valley.

No Napa Valley, que abriga as cidades de Yountville, Oakville, St. Helena, Rutherford e Calistoga, há cerca de 250 vinícolas e os melhores rótulos. Com tantas opções, o difícil é escolher as vinícolas para visitar. Duas boas sugestões: o Chateau Montelena, que fica na cidade de Santa Helena e tem o vinho branco do mesmo nome que desbancou os vinhos franceses em uma prova cega, em 1976 – a história é relatada no filme “A batalha de Paris” (Battle Bottle); e a Opus One, que produz um dos melhores vinhos, para muitos o melhor, californianos. As duas vinícolas oferecem visitas guiadas, com provas de vinho da casa.

A Opus One, aliás, resulta de uma joint venture entre Robert Mondavi, enólogo que é apontado como responsável pelo boom dos vinhos californianos, e o Baron Philippe de Rothschild, famoso por produzir o francês Chateau Mouton Rothschild, um dos cinco melhores – e mais caros – grand crus do mundo.

As belas construções, cercadas pelos vinhedos, no Napa Valley.

As belas construções, cercadas pelos vinhedos, no Napa Valley.

Depois de conhecer as vinícolas, uma excelente opção para almoço ou jantar é o Wine Spectator Greystone Restaurant, a joia do Culinary Institute of América Greystone Restaurante, uma escola de gastronomia próxima à cidade de Santa Helena. O restaurante tem alguns ex-alunos ilustres, como Antony Bourdain, astro do canal Discovery Travel & Living, e o apoio da “bíblia” mundial do vinho, a Wine Spectator.

Outra opção bem mais refinada é o famoso French Laundry, do chef Thomas Keller. O restaurante é três estrelas no guia Michelin e exige reserva com antecedência (reserve pelo site opentable.com). Ele chegou a ser eleito o melhor do mundo, antes que o lugar fosse tomado pelas espumas do chef Ferran Adrià, em Roses, próximo a Barcelona, na Espanha.

Balões saindo para sobrevoar o Napa Valley, uma boa opção para os mais aventureiros.

Balões saindo para sobrevoar o Napa Valley, uma boa opção para os espíritos mais aventureiros.

Você também pode aproveitar vinhos e a culinária local viajando pelo trem Napa Valley.

Se você não quiser errar, experimente os vinhos tops da região como o Opus One, o Caymus, o Moone Tsai, mas você pode se arriscar sem medo nos vinhos menos conhecidos e, portanto, mais baratos, mas que reservam grandes surpresas.

Saindo do Napa Valley, você pode pegar a estrada e seguir até Santa Barbara, uma outra importante região vinícola dos Estados Unidos, famosa por  seus diversos microclimas e tipos de solo que favorecem a produção de chardonnay, pinot noit e syrah.

Os vinhedos da vinícola Kalyra, em Santa Barbara, na rota dos pinot noir.

Os vinhedos da vinícola Kalyra, em Santa Barbara, na rota dos pinot noir.

Em Santa Barbara, foi rodado o filme “Sideways”, que contribuiu para chamar a atenção do mundo para essa região vinícola e é considerado a maior propaganda da varietal Pinot Noir. O filme conta a história de Miles Raymond (Paul Giamatti), que é fascinado por vinhos e decide dar como presente de despedida de solteiro a Jack (Thomas Haden Church), seu melhor amigo, uma viagem pelas vinícolas do Vale de Santa Inez, na California. A partir daí, começam as aventuras dos dois amigos.

A região tem uma penca de importantes vinícolas e há um roteiro para quem quiser fazer o percurso do filme.  Duas vinícolas que fazem parte do roteiro do filme são a Kalyra e a Fess Parker.

Depois de circular pelas vinícolas, você pode visitar a pequena cidade de Solvang – antes, Vagabond Inn –, de influência dinamarquesa, que oferece vários restaurantes, e a cidade praiana de Santa Barbara, reconstruída em estilo mediterrâneo após ser destruída por terremoto em 1925.

Solvang, a cidade colonizada por holandeses.

Solvang, a cidade colonizada por dinamarqueses.

 

Brunellos, Sassicaias, Chiantis e o charme rural da Toscana

A beleza da região já seria suficiente para incluir a Toscana, na Itália, em qualquer lista dos melhores destinos turísticos do mundo. Junte a isso a qualidade de seus vinhos e a deliciosa comida regional, à base de caça e, claro, massas, e o cenário perfeito está montado.

Siena é uma das belas cidades da Toscana.

Siena é uma das belas cidades da Toscana.

Os campos da Toscana, com suas típicas construções de pedra.

Os campos da Toscana, com suas típicas construções de pedra.

A Toscana é formada por várias cidades, algumas bem pequeninas, mas a referência da região é Florença, distante 278 km de Roma. Berço da Renascença – movimento artístico, cultural e científico ocorrido na passagem da Idade Média para a Moderna -, Florença é um museu a céu aberto. Além dos belos monumentos, com destaque para o Duomo, a quarta maior catedral da Europa, a cidade reúne obras primas de grandes artistas em seus museus, como o “Davi”, de Michelangelo, que está na Dell’Academie. Não deixe também de visitar a Galleria degli Uffizi, o mais importante museu de Florença e um dos mais importantes da Europa, que reúne obras de arte dos séculos XIII a XVIII. É um local onde você se vê de frente com a obra de ninguém menos que Leonardo da Vinci.

Passear de carro pela região é um prazer inigualável e você vai descobrindo pelo caminho cidades encantadoras. Siena, San Gimignano e Pisa são mais conhecidas, mas não deixe de visitar pequenas vilas, como Montepulciano, Pienza e Montechielo.

Uma panorâmica dos campos da Toscana, uma das mais belas regiões da Itália.

Uma panorâmica dos campos da Toscana, uma das mais belas regiões da Itália.

A Fortezza, em Montalcino, onde são vendidos os Brunellos produzidos na região.

A Fortezza, em Montalcino, onde são vendidos os Brunellos produzidos na região.

Também não deixe de ir a Montalcino saborear os brunellos, vinhos produzido com a uva sangiovese, ideal para acompanhar o chingiale (javali, em italiano) e outras carnes de caça. A harmonização do vinho com a caça é uma das mais completas expressões da chamada enogastronomia.

Nas redondezas também fica a região de Bolgheri, produtora dos vinhos Sassicaia, Sondraia, Guado al Tasso, Ornellaia e o último campeão entre os chamados supertoscanos, o Masseto. Para se ter ideia, enquanto o Brunello reserva médio, conta em que não entram os caríssimos Biondi Santi de safras especiais, custa em torno de 130 euros, o Sassicaia médio fica em 230 euros e o Masseto vai a 450 euros. Foi o Sassicaia que, elaborado de vinhedos plantados em 1944 pelo Marchese Incisa della Rocchetta, num terreno pedregoso de sua propriedade (San Guido), distante a 10 km do mar, colocou a região no mapa internacional do vinho.

Em Montepulciano, onde foi gravado episódios do filme Crepúsculo, a saga romântica de vampiros e lobisomens, aproveite para experimentar o vinho Nobile de Montepulciano.

Apesar de serem menos complexos, os chiantis, feitos com a uva Valpolicella – a preferida do escritor Ernest Hemingway –, também merecem ser saboreados. Uma rota rodoviária cênica que explora a região produtora dos chiantis é a La Chiantigiana, que parte de Siena e passa por belas cidadezinhas, como Greve in Chianti e Castelina in Chianti.

Vinho, alta gastronomia e paisagens deslumbrantes é, sem dúvida, uma combinação maravilhosa para uma viagem perfeita.

O Duomo é uma das atrações de Florença ou, em italiano, Firenze,

O Duomo é uma das atrações de Florença ou, em italiano, Firenze.

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