Uma indústria milionária, a da pesca esportiva nos rios do Amazonas, esbanja matéria-prima de alta qualidade, investidores com força financeira e potencial sequer mensurável. O tucunaré, peixe que é o preferido dos pescadores, povoa praticamente todos os lagos da região. E o pirarucu, um dos maiores peixes do mundo, está disponível em quantidade cada vez maior a cada ano. Só em 2013, segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (Ibama), foram retirados de lagos manejados 22.054 desses peixes, num total de 1.323.240kg.
A retirada foi feita pelos próprios moradores, que venderam o quilo do produto a R$ 5, em média, gerando cerca de R$ 6,5 milhões, pulverizados entre as inúmeras comunidades abrangidas pelo programa. A indústria da pesca, com a criação de infraestrutura hoteleira e de transporte, que transformaria os comunitários em guias especializados, com valorização salarial muito maior, poderia gerar recursos bem superiores.
Uma fábrica para instalação no Polo Industrial de Manaus (PIM) precisa percorrer verdadeira via crucis, antes de efetivar os empregos e investimentos largamente anunciados desde o primeiro momento. Passa pela aprovação do Conselho de Desenvolvimento do Amazonas (Codam), para receber o incentivo do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), vai ao Conselho de Administração da Suframa (CAS) para se acertar com Imposto de Importação (II) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), finalizando na Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), que concede a redução no Imposto de Renda (IR). A indústria da pesca esportiva também precisa seguir um ritual para se tornar efetiva, mas, o Amazonas ainda nem iniciou esse movimento.
Amazonenses que viajam a turismo para os Estados Unidos estão cansados de ver pescadores norte-americanos desembarcando com tubos contendo varas de pesca, vestindo camisas e calças apropriadas, da marca Colúmbia, e seguindo para os destinos perdidos na imensidão dos rios da região. Empresas de diversas partes do País, especialmente do interior de São Paulo, “caçam” esses consumidores e, sem qualquer regulamentação amazonense, levam as divisas para fora do território e dos cofres estaduais.
O caboclo pesca o pirarucu somente de arpão, malhadeira e espinhel. Jorge Kiyoshi Watanabe, empresário paulista e dono do site www.programaranchodopescador.com.br, que tem sede em Campinas (SP) e é especializado em excursões na Amazônia, mostra como é possível fisgar o pirarucu com vara, linha e carretilha especiais. É um show. Ele exibe toda a emoção do momento em que um peixe em torno de 100kg fisga e briga com o pescador.
Veja o vídeo:
A pesca esportiva é propulsora do turismo. E turismo é uma indústria que gera sete empregos informais para cada emprego formal.
Veja a relação dos locais onde o pirarucu é manejado e despescado no Amazonas, anualmente, que poderiam gerar renda diferenciada para o caboclo. Os pecuaristas dizem que do boi se aproveita até o urro. Do pirarucu é possível aproveitar até a respiração – menos, por enquanto, no Amazonas:
UC / AI / AP /PTI e TI |
SETOR |
Município/região |
COTA |
T.I |
Copatana |
JUTAÍ |
173
|
T.I e P.T. I |
Sol de Cima
|
JUTAÍ |
1200 |
RDS e T.I
|
Sol de Baixo |
JUTAÍ |
309 |
ÁREA DE ACORDO DE PESCA |
Arumanduba Tarará |
JUTAÍ |
476 |
RDS CUJUBIM |
Vila do Cujubim |
JUTAÍ |
25 |
RDS CUJUBIM |
Novo Paraíso |
JUTAÍ |
25 |
RDSM |
Sol de Cima I |
FONTE BOA |
597 |
RDSM |
Sol do Meio |
FONTE BOA |
98 |
RDSM |
Setor: Maiana |
FONTE BOA |
706 |
RDSM |
Setor: Sol do Meio |
FONTE BOA |
496 |
RDSM
|
Maiana |
FONTE BOA |
698 |
RDSM |
Sol de Baixo |
FONTE BOA |
584 |
RDSM |
Auatí-Paranã |
FONTE BOA |
178 |
RDSM |
Panauã |
FONTE BOA |
1240 |
RDSM |
Guedes |
FONTE BOA |
1677 |
RDSM |
Sol de Cima II |
FONTE BOA |
514 |
RDSM |
Mamirauá |
FONTE BOA |
476 |
RDSM |
Campina |
FONTE BOA |
31 |
T.I |
Setor. 1 – T.I |
TONANTINS |
1501 |
T.I |
Setor. 2 – T.I |
TONANTINS |
300 |
T.I |
Setor. 3 – T.I |
TONANTINS |
148 |
A.P |
Setor. 1 – N.I |
TONANTINS |
731 |
N.I |
Setor. 2 – N.I |
TONANTINS |
35 |
N.I |
Setor. 3 – N.I |
TONANTINS |
101 |
RESEX BAIXO JURUÁ |
Andirá |
BAIXO – JURUÁ |
26 |
RESEX BAIXO JURUÁ |
Complexo do Planêta |
BAIXO – JURUÁ |
330 |
RESEX BAIXO JURUÁ |
Forte das Garças |
BAIXO – JURUÁ |
04 |
RESEX BAIXO JURUÁ |
Socó |
BAIXO – JURUÁ |
06 |
RESEX BAIXO JURUÁ |
Antonina |
BAIXO – JURUÁ |
90 |
RESEX BAIXO JURUÁ |
Botafogo |
BAIXO – JURUÁ |
17 |
RESEX MÉDIO JURUÁ |
São Raimundo |
SÃO RAIMUNDO |
198 |
RESEX MÉDIO JURUÁ |
Roque |
SÃO RAIMUNDO |
64 |
RESEX MÉDIO JURUÁ |
Nova Esperança |
SÃO RAIMUNDO |
34 |
RESEX MÉDIO JURUÁ |
Gumo Facão |
SÃO RAIMUNDO |
|
RESEX MÉDIO JURUÁ |
Fortuna |
SÃO RAIMUNDO |
60 |
RESEX MÉDIO JURUÁ |
Morada Nova |
SÃO RAIMUNDO |
58 |
RDS-MAMIRAUÁ |
Jarauá |
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MAMIRAUÁ |
1247 |
RDS-MAMIRAUÁ |
Tijuaca |
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MAMIRAUÁ |
336 |
RDS-MAMIRAUÁ |
Jutaí-Cleto |
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MAMIRAUÁ |
728 |
RDS-MAMIRAUÁ |
Caruara |
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MAMIRAUÁ |
360 |
RDS-MAMIRAUÁ |
Acapú |
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MAMIRAUÁ |
390 |
RDSM |
Setor: Itauba/Aspecmri -Comunidade: Nossa Senhora de Fátima (Lago Sal) |
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MAMIRAUÁ |
515
|
RDS UACARÍ |
Setor 01 |
CARAUARI |
333 |
RDS UACARÍ |
Setor 02 |
CARAUARI |
14 |
RDS UACARÍ |
Setor 03 |
CARAUARI |
157 |
RDS UACARÍ |
Setor 04 |
CARAUARI |
07 |
RDS UACARÍ |
Setor 05 |
CARAUARI |
13 |
RESEX JUTAÍ |
São Francisco do Cazuza |
JUTAÍ |
12 |
RESEX JUTAÍ |
S. João do Acural |
JUTAÍ |
17 |
RESEX JUTAÍ |
Novo S. João do Acural |
JUTAÍ |
05 |
RESEX JUTAÍ |
Novo Apostolado |
JUTAÍ |
09 |
RESEX JUTAÍ |
Piranha |
JUTAÍ |
69 |
RESEX JUTAÍ |
Pururé |
JUTAÍ |
12 |
RESEX JUTAÍ |
Marauá |
JUTAÍ |
46 |
RESEX JUTAÍ |
Cariru |
JUTAÍ |
12 |
RESEX JUTAÍ |
Bordalé |
JUTAÍ |
06 |
RDS-PIAGAÇU-PURUS |
Ayapuá/Cabeceira |
Instituto PIAGAÇU-IPI |
80 |
RDS-PIAGAÇU-PURUS |
Itapurú |
Instituto PIAGAÇU-IPI |
200 |
RDS-PIAGAÇU-PURUS |
Caua/Cuiuanã |
INSTITUTO PIAGAÇU-IPI |
187 |
TERRA INDIGENA |
Xila |
INSTITUTO PIAGAÇU-IPI e FUNAI |
10 |
PAUMARÍ |
Terra Nova |
INSTITUTO PIAGAÇU-IPI e FUNAI |
10 |
TERRA INDIGENA |
Abaquadi/ T. Nova |
INSTITUTO PIAGAÇU-IPI e FUNAI |
10 |
ILHA DA PACIÊNCIA |
Com.: Nossa Sra. De Fátima |
IRANDUBA |
25 |
(ACORDO DE PESCA) |
Com.: Nossa Sra. De Fátima |
IRANDUBA |
25 |
RIO ARARÍ – AP |
São João do Araçá |
ARARÍ |
50 |
RESEX UNINÍ |
Setor 2 |
SEMADS |
50 |
ÁREA DE A.P |
Santa Rosa |
ALTO SOLIMÕES |
348 |
ÁREA DE A.P |
Araparí |
ALTO SOLIMÕES |
2450 |
ÁREA DE A.P |
Moinho |
ALTO SOLIMÕES |
528 |
ÁREA INDÍGENA |
Mamuriá |
ALTO SOLIMÕES |
109 |
ÁREA INDÍGENA |
Paranã Matintin |
ALTO SOLIMÕES |
68 |
ÁREA INDÍGENA |
Manacapuru |
ALTO SOLIMÕES |
100 |
ÁREA INDÍGENA |
Betânia |
ALTO SOLIMÕES |
137 |
RESEX MÉDIO PURUS |
Comunidade Realeza |
LÁBREA |
|
RESEX MÉDIO PURUS |
Comunidade Várzea Grande |
LÁBREA |
|
RESEX MÉDIO PURUS |
Comunidade Praia da Gaivota |
LÁBREA |
99 |
RESEX MÉDIO PURUS |
Comunidade Prainha |
LÁBREA |
|
RESEX MÉDIO PURUS |
Comunidade Vila da Paz-A. I. |
LÁBREA |
|
RESEX MÉDIO PURUS |
Comunidade Jurucuá |
LÁBREA |
|
RESEX MÉDIO PURUS |
Comunidade Madiberi |
LÁBREA |
74 |
RESEX MÉDIO PURUS |
Comunidade Vila do Canízio |
LÁBREA |
|
|
TOTAL |
22.054 |
Observações:
1) U.C = Unidade Conservação; A.P = Acordo de Pesca e A.I = Área Indígena ou não
2) As cotas dos 22.054 pirarucus correspondem a aproximadamente a 1.323.240 kg, estimando o peso médio por peixe de 60kg
3) Fonte – IBAMA / SDS / CEUC / ADS (contato: Engenheiro de pesca Rigoberto Pontes)
A partir desta oportuna e inédita matéria devemos cobrar mais das autoridades. Enquanto isto os municípios poderiam criar leis e regulamentos para a pesca esportiva.
Esse despesca não é considerada pesca esportiva. Mas tenho certeza que o caboclo do interior se preparado, treinado e com uma boa infraestrutura, vai ganhar muito mais grana com a pesca esportiva que com o manejo e a despesca do pirarucu.