O título de Cidadão de Manaus

O então vereador Geraldo Medeiros sugeriu, e a Câmara Municipal de Parintins aprovou por unanimidade, o título de Cidadão de Parintins para José Pantoja do Carmo. Meu pai, mais conhecido como Zé Caiá, meteu um sapato, com meia, calça social, camisa manga comprida e foi lá receber o galardão. Suzana, minha irmã mais velha, era a secretária da Câmara Municipal – foi ela que eu vi um dia digitando feito metralhadora na máquina de escrever e me inspirou a fazer o curso de datilografia – e me contou que a cerimônia foi emocionante. Meu pai me disse: “Me deram só um papel”.

Agora, por proposição do vereador Massami Miki, os 38 vereadores da Câmara Municipal de Manaus aprovaram por unanimidade o título de Cidadão de Manaus para mim. Vão me dar um papel.

Papai, você saiu de Juruti, à época Município com uns 5 mil habitantes, e se fez perceber em Parintins, com uns 80 mil habitantes na hora do seu título. Seu filhinho aqui, embora quase sem nenhuma habilidade com o espinhel e a tarrafa, veio desses 80 mil, chegou a pesar 54kg, de tanta fome que passou, e hoje “disque” ganha um reconhecimento oficial dos representantes da “capitar”, com 2 milhões de habitantes. Será que isso vale pelo anel de doutor que o senhor queria?

De verdade, pessoal, fico emocionado com o gesto.

Gostaria, como imagino, que o título fosse fruto do entendimento, pelos vereadores, da minha ideia de Manaus. Neste momento, de férias, viajando, não vejo a hora de voltar à cidade e rever as pessoas, os lugares, a gastronomia local, os rios, a pesca, a vida manauara.

Qual é minha ideia? Simples: a Europa é espetacular, com lugares maravilhosos, estrutura urbana impecável, estradas irrepreensíveis, gastronomia requintada etc. Mas, em 1945, quando terminou a II Guerra Mundial, estava mais esburacada que tábua de pirulito. Tudo isso, praticamente, que hoje nos faz pasmar de admiração, foi construído de 1945 para cá.

Por que o Amazonas não pode começar, paulatinamente, um grande plano para se tornar o Estado mais estruturado do Brasil?

Você leu “Um conto entre duas cidades”, de Charles Dickens? Não? Leia. Fala sobre Paris e Londres medievais. Eram tétricas. Hoje são cidades (Tereza que não me ouça) muito parecidas e niveladas pelo alto.

Sabe a Suíça? Tudo funciona. E você me dirá: “Marcos, você pirou? Suíça é Suíça. Manaus nunca será Liverpool, que dirá Berna, Lucerne ou Montreux”.

Aí eu te conto sobre um venezuelano (vamos publicar a história completa num especial do blog), dono de restaurante, que resolveu acelerar sua Mercedes a 160 por hora, numa estrada suíça de velocidade limite em 120 km/h. Resultado? A polícia viu as câmeras de segurança, apareceu atrás dele, do nada, e ele perdeu o direito de dirigir por três meses e pagou quase 4 mil francos (R$ 10,4 mil), entre advogado e multas. Isso significa que os suíços são direitos, gostam de fazer as coisas do jeito certo, mas se alguém resolver transgredir as normas vai pagar caro por isso. E a Justiça funciona.

Se o sujeito atravessar a rua, a pé, com o sinal vermelho para ele, mesmo se não vier nenhum carro, é multado, se tiver um policial próximo. Por que? Porque o motorista do carro que aparecer naquela hora e bater nele terá que indenizá-lo ou o Estado é que pagará a indenização. Ou seja, todo mundo faz tudo certo na Suíça ou a punição é severa.

Você já pensou como o trânsito seria melhor em Manaus se quem ficasse mudando de faixa – claro que elas teriam que estar muito bem demarcadas no asfalto – fosse multado, como manda a lei? E se caminhão e ônibus só pudesse andar pela direita?

Defendi a Ponte Rio Negro, um corte na nossa mania de julgar que não somos capazes disso ou daquilo. Jamais imaginei que fosse haver um aditivo elevando a obra de R$ 500 milhões para R$ 1,1 bilhão. Fui a favor da demolição do Vivaldão e construção da Arena da Amazônia. Confesso agora, aqui entre nós, que estava naquele jogo Fast x Cosmos, com mais de 85 mil espectadores, e também pulei da marquise, quando ela ameaçou desabar. Fiz inúmeras matérias sobre as rachaduras na estrutura das arquibancadas do estádio. Só quem não vive em Manaus não sabe que houve interdição de vários setores ameaçados de desabamento, muitas vezes.

Com novas fundações, partindo do zero, a Arena da Amazônia tem a obrigação de ser impecável. Nela o torcedor vai poder assistir aos jogos sentado, chegando a hora que quiser, com seu lugar marcado. Isso só é possível na Europa. Fiquei de queixo caído quando, chegando cinco minutos antes de começar um Barcelona x Espanyol, o clássico catalão, no Camp Nou lotado, pude sentar no assento que comprei.

Por que o manauara precisará, sempre, viajar para a Europa para ter direito a um tratamento decente como esse?

Sou a favor de tudo que possa representar progresso, desenvolvimento, avanço. Alguém roubou nessas obras? Você mesmo pode fazer uma laudatória relação de entidades que têm a obrigação de fiscalizar isso. É outro departamento.

Luto pelo melhor. Manaus é um patrimônio dos amazonenses. Jamais, em tempo algum, arredo um milímetro da honra de ter nascido parintinense, mas, a condição de cidadão manauara honorário corrobora meu amor pela cidade onde nasceram Marcos Filho e Breno Rudá, meus filhos, e Marcos Neto.

Massami Miki, vereadores, obrigado. Vou guardar com carinho e consciência absoluta da importância que tem, como fez meu pai, o papel que vocês estão me dando.

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2 comentários

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  1. Jorge Luís Pimenta disse:

    Prezado Marcos,
    Aprecio os seus comentários como jornalista, e gostaria de sugerir uma reportagem, que tanto incomoda nos moradores e admiradores de cidade, mas que serve de chacota para os que nos visita que é a FALTA DE TROCO NO COMERCIO LOCAL.

  2. Nélio Nogueira Teixeira disse:

    Parabéns ao Marcos Santos pelo titulo. Embora sendo do contrário ele merece. Na Europa ou outros Estados do Brasil não temos problema de troco, que em Maus é uma vergonha e soa proposital, uma de João Sem Braço para ficar com o troco. A Junta Comercial, Federaçãop do Comércio, etc, poderiam colaborar com a população exigindo do comércio local que Dêm o troco corretamente.