Feliz Dia das Mães, minha mãe

Escrevo em causa própria, mas, me perdoem, minha mãe passou dos 90 anos derramando amor e carinho. Trabalho com as palavras, mas, numa hora dessas, só o que posso fazer é abrir meu coração.

Toda mãe, em algum momento da vida, renuncia a algo em favor dos filhos. Lembro muito bem das inúmeras vezes em que ela parava no meio do caminho o gesto de levar a comida à boca, devolvia tudo ao prato e redistribuía entre nós, seus filhos. Quando meu pai saía para a pesca, dias, semanas seguidas, deixando uns parcos trocados para nos manter, além da sua preciosa credibilidade na conta da taberna, era dela que saía o equilíbrio entre não nos deixar passar fome nem sacrificar o parceiro.

O supremo sofrimento para os pais é quando a natureza é subvertida e o filho se vai primeiro que eles. Minha mãe perdeu quatro de seus cinco filhos e, há poucos meses, o companheiro de mais de 60 anos, meu pai. No funeral, aquela hora tão dolorosa, chorosa, ela se revelava mais forte que todos nós. Tomei-a nos braços, na saída do cemitério, e a levei embora, mas era ela quem me consolava.

O que dizer, no Dia das Mães, diante da felicidade de tê-la entre nós?

Te amo, minha mãe. A senhora é depositária de toda a gratidão por essa família maravilhosa que formou, ao lado do nosso querido pai. É a dona das lembranças daquele quintalzão com pés de goiaba, abacate, biribá, caju, cupuaçu, graviola, laranja, ata, açaí, coco, sacaca… E ainda sobrava um espaço para o futebol, quando a Itamar colocava o tênis da educação física no colégio e me acertava as canelas, lembra?

Hoje, quando olho para o terreno, 10 X 30, naquele endereço de tantas recordações da avenida Rio Branco, onde você mora até hoje, fico me perguntando como é que cabia tanta coisa? E logo me vejo correndo, de novo, entre meus irmãos, subindo nas árvores, fazendo travessuras, até o momento em que seu olhar severo me chamava para fazer a lição. Aí vem a resposta para minha indagação: a gente tinha espaço para nossos sonhos e fantasias e a felicidade não precisa de terra para se manifestar.

Digo e insisto com seus netos, rebato sempre que posso, para que não transmitam a você quaisquer preocupações. Você agora deveria compartilhar apenas nossos melhores momentos. Deveria, mas não adianta, seu instinto materno é um verdadeiro para-raios e nada lhe passa despercebido. Quantas vezes, eu em Manaus e você em Parintins, recebo ligação sua quando estou com uma simples dor de cabeça? Você e papai acompanharam, embora nós tentássemos de todas as formas mantê-los distantes, os últimos momentos de todos os nossos irmãos. E esse sexto sentido se estende aos netos, aos bisnetos, aos tetranetos…

A senhora, mãe, será sempre a mesma. Em nossas mentes e em nossos corações.

Feliz Dia das Mães, minha mãe. Você é a mãe que espelha meus melhores votos a todos os filhos e a todas as mães neste dia. Te amo.

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