O simbolismo do abre e fecha no retorno do supermercado DB da Ponta Negra

Em 2010, a Prefeitura fechou o retorno do supermercado DB da Ponta Negra. E reabriu, alguns dias depois. A alegação era de que havia necessidade de construir alternativas. Nasceram os retornos em frente ao Ministério Internacional da Restauração, em frente ao Canamari, na entrada do bairro Santo Agostinho, e em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA). Com força e com coragem foram fechados os retornos do Ministério Público Estadual (MPE) que, talvez pensando em não atuar em causa própria, ficou pianinho. E, mais recentemente, fecharam os retornos do próprio CMA. Os caminhões do Exército hoje são obrigados a dar uma volta maior. Os militares nada disseram, em nome da civilidade e da integração ao processo democrático.

Em 2013, no dia 1º deste mês, a Prefeitura fechou o retorno do supermercado DB. “É com base em estudos de trânsito realizados na cidade, para dar maior fluidez ao tráfego naquela área”, justificou um técnico municipal. Estava certo. O trânsito melhorou muito. Todos estavam elogiando. Ninguém saiu prejudicado porque o freguês do DB, vindo da Ponta Negra, ficou com um semáforo (para o dono do supermercado chamar de seu) e o retorno que lhe permitia entrar na loja sem precisar acessar a complicada Bola do Carrefour. Na saída, o cliente precisava apenas trafegar cerca de 200 metros e fazer o retorno logo à frente, antes da Igreja da Restauração. Estava tudo certo. A sociedade até havia fechado os olhos àquele grotesco acinte do semáforo que ficou.

Mas, hoje, dia 04/03, caminhões foram mobilizados. Às pressas, os tubos de colocação do semáforo foram levantados e os fios reconectados febrilmente. Retorno, semáforo, empáfia e altivez de dono da cidade do empresário Sidney Pedrosa estão de volta ao local.

Manaus lembra a história do supermercado DB. Uma família muito simples, trabalhadora, enfiou a cara na pequena empresa atacadista, herança dos pais, que nasceu acanhadamente no Centro da cidade, e a transformou num estrondoso sucesso varejista.

A cidade assistiu o império crescer a olhos vistos, sem deixar de manifestar certo orgulho por aquilo ser o fruto do suor de líderes dedicados, talentosos, trabalhadores. Eles souberam tirar daí o combustível das conquistas que vieram a seguir, puxando o trem do segmento na cidade – o primeiro hipermercado manauara, na rua Umberto Calderaro Filho (Paraíba), o segundo, na Ponta Negra, o terceiro, na Cidade Nova, e tantos outros que perdi a conta.

As araras, porém, símbolo da empresa, começaram a se empolgar mais com o próprio colorido das penas que a investir na relação com o cliente. Nasceu a suntuosa mansão às margens do lago do Tarumã, afrontando o Ministério Público e a Justiça Federais, tão ciosos na proteção às obras próximas aos cursos d’água, a ponto de aplicar multa milionária ao condomínio Riviera da Ponta Negra, construído muito depois.

E vieram os episódios dos retornos.

Foram fechados os retornos da imprensa, na avenida André Araújo. TV Band, TV A Crítica, jornal A Crítica, rádio A Crítica, TV Amazonas, rádio Amazonas FM, Amazonsat, bem que esboçaram alguma reação, mas não conseguiram resistir ao apelo do “interesse público”.

Havia mais retornos absurdos na cidade. O enorme investimento feito pela Prefeitura nas passagens de nível da Constantino Nery, Djalma Batista e Paraíba, nos viadutos da Recife e do Coroado esbarrava nos semáforos e saídas do Amazonas Shopping. Tudo foi retirado. O empreendimento obrigado a construir passarela e uma baia para a parada de ônibus. Ou isso ou fiscalização diária.

Não parou aí. O Manauara Shopping também barreirava o trânsito da Recife e da Paraíba, com faixas de pedestres que causavam grandes engarrafamentos. Foi obrigado a construir duas passarelas, uma para cada rua, com Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) celebrado junto ao MPE.

E o DB da Ponta Negra, com dois semáforos e dois retornos? Virou um capricho pessoal de Sidney Pedrosa. Esquecido de que foi na humildade e no trabalho que construiu tudo que tem, o empresário resolveu vergar a autoridade constituída da cidade. Mostra poder econômico, político e jurídico. É assim que se fechar ele abre.

Só há uma ponta de esperança. Um dia, naquela reflexão diária à qual se entrega, talvez ele lembre dos velhos tempos na Escadaria dos Remédios. E aí, mergulhado nesse princípio, chegará à conclusão de que não pode ser a exceção à regra de civilidade a que a Prefeitura tenta submeter o trânsito de Manaus. Pensará: “Mas e se eu mantiver esses retornos abertos, como é que vou poder me sentir seguro numa sala de cinema, se os fiscais não terão moral para fechá-la, ou como saberei se a carne que compro para vender no meu supermercado tem qualidade, se os responsáveis também hesitarão, imaginando se algum Sidney Pedrosa poderoso não estará de plantão, vigiando-os, pronto a abrir o que eles fecharem?”

Aí, então, finalmente, dará a ordem: “Podem fechar os meus sinais e os meus retornos. Eu sou criativo e vou encontrar uma forma de continuar vendendo os tubos sem agredir minha cidade”.

Esses semáforos e esses retornos são um símbolo. Mesmo com todo o poder adquirido, lá no íntimo de Sidney Pedrosa ainda deve repousar aquele sujeito humilde, admirado por todos, que trabalhava feito um mouro e se fez digno de tantas conquistas. Tomara. Eu não perco a esperança.

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10 comentários

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  1. Paulo silva disse:

    O atual prefeito e bipolar! Uma hora e uma coisa, outra hora e outra! Graças ao Marcos santos isso nao foi pra frente! Ainda bem! Marcos Santos pra prefeito na próxima!!!

  2. Alexandre Kuklenski disse:

    Prezado Marcos ! Realmente o trânsito na nossa cidade é pior que o caos. Se for possivel, gostaria que a tv Tiradentes mostrasse em uma reportagen o verdadeiro abuso que foi a execução dos dois “retornos”executados frente ao CMA e o outro em frente à construção de uma delegacia, ambos na mesma avenida (Coronel Teixeira).Quem é o responsável ?

  3. Alexandre Kuklenski disse:

    Obrigado pela atenção.

  4. Ewerton Amaral disse:

    Acho que é necessário, somente o que entra, pois se todo mundo tiver que retornar na Pedro Teixeira, as coisas tendem a piorar. Fecha o de saída!

  5. Enola holmes disse:

    Marcos, brilhante,brilhantissímo!!!!!!Seu editorial, Parabéns!!!! Vc. Disse tudo que penso à muito tempo sobre essa afronta desse Sr. que é o dono da Cidade.
    Quando passei e vir a retirada dos tabajaras, tive a minha primeira decepção com o Arthur, o candidato que ganhou meu voto, que dizia que ia fazer as intervenções na cidade doa a quem doer.
    Nossa cidade não suporta mais esse tipo de pessoa, que só pensa em si, nas suas coveniências.
    Manaus tem que crescer moralmente,as pessoas que hoje aqui vivem, sendo daqui ou não, tem que ter um olhar de respeito, carinho e amor pela cidade que vivem.
    Arthur, tem que ser fechado os dois sinais do DB! e ampliado a rua(Coronel Texeira ) na frente da bola que dá p/ Pedro Teixeira, tem uma área grande que dá p/ fazer isso, acabaria com congestionamento ali.Invés de ficar indo ver o avião que caiu na Av. Do turismo meu caro Prefeito, circula de carro olhando as ruas que vc. vai ver que tem coisas simples que qualquer leigo consegue enxergar, mas parece que não consegue ser visto por vc.

  6. Paulo Silva disse:

    Marcos , o prefeito diz que deu a ordem e o Dir Presidente do manaustrans diz que NAO vai cumprir? e isso mesmo?? que falta de autoridade! interna e externa! perdeu a moral! Ai Marcos , nao da ! Ta uma falta de autoridade nessa cidade!

  7. everaldo fernandez disse:

    Parabéns, pelo texto com alma, e permeado de inspiração!

  8. ana tavares disse:

    Não deu tempo de soltar um sorriso, quando passei de volta pra casa já estavam recolocando o semáfaro, apesar de que não há razão para permanecer os dois semáfaros.

    Aliás o retorno na esquina do Ayapuá está ocioso, conta -se quantos veículos usam ao dia aquele retorno.

    Hello!! sr.Prefeito! cadê a austeridade prometida para sua admistração, o governo é do povo para o povo!Parabéns CBN, não desista de falar do assunto Marcos Santos.

  9. L Menezes disse:

    O que é isso Artur, Manaus não é mais uma província de coronéis,tenha certeza, que o prejuízo será maior se sua moral for jogada ás traças, não ceda, sabemos que essa empresa paga muitos impostos, mas o bem coletivo tem que prevalecer.!

  10. Ivan Filho disse:

    E parece que decidiu-se por manter os retornos…infelizmente,