A dança das pesquisas e a credibilidade desse tipo de levantamento no clima de disputa eleitoral

“Ninguém faz campanha eleitoral baseado em feeling. A última pessoa que viveu de feeling foi o Morris Albert” (Nizan Guanaes, publicitário e marqueteiro). A frase, na qual o comandante de campanhas presidenciais, rival de Duda Mendonça e dono das agências DM9 e África lembra a famosa música “Feelings”, de autor brasileiro, sucesso mundial, ilustra a importância que as pesquisas têm para orientar os candidatos. Mas elas orientam também os financiadores e induzem eleitores indecisos a votar em quem está subindo ou dispara na frente. É aí que começa o vale-tudo dos institutos de pesquisa.

Manaus assistiu com surpresa, quinta-feira da semana passada, à publicação da pesquisa do Ibope, feita para a Rede Amazônica, na qual a candidata Vanessa Grazziotin (PCdoB) gruda no principal adversário, o ex-senador Artur Virgílio Neto, ambos com 29% das intenções de votos. Que fato teria o poder de estagnar o tucano e guindar a comunista ao empate? O ovo? O cuspe? A goma do confete? A chegada de um novo e endinheirado financiador? A presença do Lula (que chegou quando a pesquisa estava coletada)? O natural, então, seria que ele caísse para ela subir e não que ela chupasse os votos dos demais concorrentes que, aliás, não tinham nada com isso.

A empresa Action publicou, domingo, outro levantamento que confirma os números do Ibope: Artur 29%, Vanessa 28%. Aumentou ainda mais as dúvidas. Ouvi, de moradora de um dos prédios mais classe média-alta de Manaus, que vários vizinhos tinham declarado, domingo, no elevador, que mudaram o voto a partir desses números. Pior é que, nesse caso, como trata-se de gente endinheirada, mudam o voto e a direção do patrocínio, enfraquecendo ainda mais o concorrente apontado com números adversos.

Conversei com o Ronaldo Tiradentes, segunda-feira, sobre a coleta de dados da pesquisa da rádio CBN Manaus, em fase de conclusão. Falamos do risco de apresentar números diferentes dos do Ibope e da Action e errar no resultado final do Primeiro Turno. Ele me garantiu que, da coleta de dados à tabulação final, estava tomando todo cuidado. O resultado foi divulgado hoje e você pode conferir no quadro ao final deste texto.

Por que os institutos que aceitam vender resultados de pesquisa eleitoral ou que, digamos, erram de boa fé os resultados, não são escorraçados do mercado? Porque eles, após terem feito e acontecido no período anterior, se esmeram na última pesquisa, geralmente publicada no último prazo permitido pela legislação eleitoral, e aí chegam muito perto do resultado do pleito.

O “negócio” firmado entre políticos e pesquisadores desonestos tem uma “ética” (a frase correta é “tem uma ausência de ética…”) toda peculiar. O “dono” dos números mexe dentro da margem de erro. Digamos que o candidato a ser beneficiado tenha 36% e o adversário 42%, com margem de erro de 3%. A divulgação apresentará empate em 39%, sem nem tremer a cara, mas aí vem o grande golpe: o “cara” do instituto vai logo avisando que o “capo” da candidatura beneficiada tem até o prazo limite para divulgação de pesquisas para chegar ao número fraudado.

A fórmula é surrada. Contrata-se milhares de cabos eleitorais. O volume de propaganda dobra, triplica, quadruplica. Os candidatos proporcionais são entupidos de material publicitário do majoritário. Providenciam-se factóides a torto e a direito. Não são raros os casos em que o esforço é tão grande que, na hora “H”, os números alinham-se com a fraude praticada anteriormente.

Ouve-se sobre isso aos montes, nos bastidores da política, de Norte a Sul do Brasil. Dá cada vez menos certo, mas já foi quase uma vara de condão dos caciques.

Os veículos de comunicação acabam sendo levados de roldão por esses “acertos”. O Diário do Amazonas, em 2004, publicou uma pesquisa, no dia da eleição, dizendo que Amazonino Mendes venceria Serafim Corrêa por 57% a 43%. Dia seguinte, abertas as urnas, deu Serafim 52% e Amazonino 48%. O Diário processou o instituto Vox Populi, autor da pesquisa.

O bom, nesse caso, é que estamos há duas semanas do Primeiro Turno, que ocorrerá dia 7 de outubro. O eleitor deposita o voto durante o dia e lá pelo começo da noite o resultado da eleição estará disponível. Oficial. No site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O leitor/eleitor pode mudar a regra do jogo anotando não a pesquisa da sexta-feira 05/10 – quando todos os institutos vão caprichar para tirar o nome da reta –, mas essas últimas, publicadas agora. Nada que aconteça nesses próximos 13 dias, a não ser que seja uma catástrofe monumental, terá o condão de alinhar números tão contraditórios.

Confira (e guarde) os números das últimas pesquisas divulgadas pelos diversos institutos que atuam em Manaus:

CBN Manaus/ UP/ DMP (publicada em 25/09)

Artur Virgílio Neto 38,21%

Vanessa Grazziotin 30,11%

 

Action/ A Crítica (23/09)

Artur Virgílio Neto 29%

Vanessa Grazziotin 28%

 

Ibope/ Rede Amazônica (20/09)

Artur Virgílio Neto 29%

Vanessa Grazziotin 29%

 

Perspectiva/ Rádio Difusora/ TV Band Amazonas (11/09)

Artur Virgílio Neto 34%

Vanessa Grazziotin 27%

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6 comentários

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  1. Paulo silva disse:

    Você tem total razão Marcos. Esse Ibope por exemplo já foi usado em diversos Estados para maquiar pesquisas. Confio na Rede CBN! Acredito na pesquisa de vocês! As outras sinceramente sao eivadas de vícios!

  2. Marcos Batista disse:

    Perfeito o artigo Marcos, é exatamente isso que acontece em todas eleições, a intenção é alavancar a candidatura da candidata dos Governos(federal e estadual). Mas também contesto a pesquisa da CBN, duvido muito que o Serafim obtenha apenas 7% dos votos, a tradição das pesquisas errarem sempre pra menos(muito pra menos) no percentual do Serafim se mantén. Em 1996 todas as pesquisas apontavam o 2º turno entre Gilberto e Alfredo, as pesquisas davam no máximo 17% pro serafim e ele foi pro segundo turno com 26%, em 2004 apontavam em torno de 20% e ele foi pro 2ºTurno com 28%, já no segundo turno o exemplo citado por voce: pesquisa 57 a 43 pro amazonino, resultado 52 a 48 pro serafim, em 2004 todas as pesquisas apontavam o 2º Turno entre Amazonino e Omar, nenhuma pesquisa apontava o Serafim com mais de 10% a quinze dias da eleição e ele foi para o 2ºTurno com 24%. Então esse erro(viciado) contra o Serafim sempre acontece, talvez ele não vá realmente para o 2º Turno, mas ele deve ter pelo menos o dobro do que as pesquisas tem apontado, e infelizmente as pesquisas alteram o voto pois alguns eleitores desistem de votar no candidato por conta da pesquisa.

  3. Ricardo disse:

    Marcos,

    Como escreveu tão bem o Dr. Félix Valois em seu artigo “o ovo” encontrado no seu blog: “A honestidade integra o elenco primário de deveres de qualquer ser humano que se preze”.

    Esta pesquisa CBN é o reflexo das ruas, a verdade dos fatos, nada mais que a verdade. Tudo que se acrescenta a verdade é mentira.

    Não deveria haver risco algum em divulgar números verdadeiros e divergentes do IBOPE e Action, mas sabemos que forças poderosas ocultas possuem lado e interesses, podendo intimidar, ameaçar e até ceifar vidas de quem lhes atravessa o caminho.

    Com números manipulados grupos de interesse manipulam a opinião pública, esperam interferir nas ações dos eleitores e mudar resultados em seu favor.
    Isto é desespero, pois insistem ser dono do povo, e sabem que estão mortos se o povo decidir ser dono de si mesmo.

    “A base legítima da justiça é a VERDADE. A parte que está com a verdade é a parte AMEAÇADA pela parte que está com a mentira”.
    Valeu CBN!!

  4. Ricardo disse:

    Marcos,
    No seu artigo vc escreveu:

    “Os veículos de comunicação acabam sendo levados de roldão por esses “acertos”. O Diário do Amazonas, em 2004, publicou uma pesquisa, no dia da eleição, dizendo que Amazonino Mendes venceria Serafim Corrêa por 57% a 43%. Dia seguinte, abertas as urnas, deu Serafim 52% e Amazonino 48%. O Diário processou o instituto Vox Populi, autor da pesquisa.”

    Eis que, coincidentemente ou não, leio no site da VEJA, no blog do Reinaldo Azevedo de hoje quem é o dono do VOX POPULI:
    “Eu não costumo, vocês sabem, desqualificar pesquisas eleitorais. Não levo a sério, vocês também sabem, as do Vox Populi. A razão é simples: Marcos Coimbra, o dono do instituto, é uma espécie de funcionário do PT faz tempo. É uma das personagens do Capítulo III da denúncia do mensalão, diga-se. Não foi denunciado.”

    Está claro… Está contaminado! Precisa dizer mais?

    Isto só corroba e confirma seu artigo de opinião.

  5. OLAVO disse:

    Dia 7 está chegando e pesquisas internas apontam o SARAFA no segundo turno, como é que vão explicar…Como Alguem que tem 30% irá perder a vaga e como quem tem 7% vai conseguir chegar no segundo turno, é fácil de entender é só assistir o programa da Henrique, aumenta o candidato X, reduz o Y, agora bate a foto, tá feito a pesquisa…
    Sarafa neles…Há e por favor sem essa de surpresa, todos sabemos a realidade…

  6. Adelbran disse:

    Vejo três pontos que devemos melhorar em nossa democracia: 1-Ser proibido divulgação de pesquisa 30 dias antes do pleito para não haver influencia direta nos indecisos; 2-Políticos com mandato não deveriam apoiar candidato; 3)- Candidato com mandato não deveria se candidatar em outra eleição, ou seja, honrar o seu mandato até o fim.