Ponta Negra, um caso raro em que uma saborosa limonada pode ser transformada em limão… e no verão

A Ponta Negra é o que os publicitários e marqueteiros chamam de “case de sucesso”. Tem muita gente, quando não está superlotada, as 24 horas de todos os dias. As obras da segunda etapa limitaram o espaço e a praia perenizada, nesses tempos de forte calor, elevou a demanda. Estava um trapo. Ficou bonita. Abre-se para o logradouro, porém, um período de incertezas com o rompimento do contrato com a Piu Invest e a volta da administração para a Prefeitura de Manaus.

O contrato de “cessão da Ponta Negra” à empresa mineira nunca foi bem digerido. A impressão é que, surpreendida por convite repentino e empurrada pelo arrojo de seu presidente, Elias Tergilene, a Piu entrou na história de supetão. Quando estava conseguindo organizar as coisas, a cobrança da sociedade, via Ministério Público Estadual (MPE) e Advocacia-Geral da União (AGU), somada à vigilância um tanto desastrosa da Prefeitura, se abateu sobre seus projetos.

Vi e gostei dos esboços da Oca Artesanal, para alocar artesãos regionais e oferecer uma venda de qualidade aos turistas, e do Bar da Brahma, um espaço temático que receberia famosos e daria visibilidade nacional ao logradouro. É de coisas assim que a cidade precisa para estar à altura de sediar… (bem, vamos deixar a Copa pra lá…)… para estar à altura da economia pujante que sua população constrói, no dia-a-dia, com o suor de seu rosto.

O pior é que a administração privada da Ponta Negra iniciou justo no momento da sucessão do prefeito Amazonino Mendes. Virou alvo político. Foi bombardeado pela oposição. E, além de ter demorado a reagir, é difícil mesmo para a população digerir a privatização de um espaço público.

Rompido o contrato pela Prefeitura, unilateralmente, a Piu Invest promete ir à Justiça. Os permissionários contrataram com ela e a Prefeitura quer refazer esses acertos, para evitar embates legais, ao mesmo tempo que busca, claramente, desmoralizar o que foi feito pela empresa.

Para você formar a sua opinião: o presidente do Implurb, Manoel Ribeiro, disse hoje que foram cobrados “preços abusivos” dos permissionários das barracas da praia, entre R$ 2 mil e R$ 4 mil. Elias Tergilene afirma que foram eles que fizeram o preço e que investiu, mensalmente, em torno de R$ 200 mil na operação toda, enquanto recebia bem menos que isso, dado o pequeno número de boxes já alugados. Soube que um só deles, que paga R$ 6 mil num boxe do calçadão, a título de aluguel do espaço, fatura algo em torno de R$ 180 mil/mês.

Formei meu juízo: empresário nenhum vai enfrentar uma horda de até 15 mil pessoas, entupindo vaso com jornal, quebrando chuveiro e produzindo lixo a torto e a direito (como afirma Manoel Ribeiro), só porque é bonzinho com Manaus. Ingenuidade absurda de quem pensa assim. Tem que ter lucro no meio. O papel da administração pública é economizar o dinheiro que seria obrigada a investir na manutenção da Ponta Negra e ficar de olho na administração privada, ajudando-a, afinando a sintonia, evitando que faça o que bem entender com o patrimônio público, exigindo respeito para com a população.

Não era da Piu Invest a obrigação de tirar o lixo da Ponta Negra. Só de fazer a manutenção dos jardins e da obra em si (banheiros etc.). Não era da Prefeitura o dever de ocupar o belo anfiteatro com eventos culturais (um violão e um cantor amazonense, algumas horas por noite, resolvia o problema).

As duas partes erraram. Ontem (27/07), pelo que se viu nas entrevistas de Josana Monteiro, diretora da Piu Invest, e Manoel Ribeiro, as posições se esgarçaram de tal modo que não parece haver caminho para reconciliação.

A Prefeitura não previu, em orçamento, dinheiro para a manutenção da Ponta Negra. As coisas, quando geridas pelo erário, custam mais caro. Sai dinheiro pelo ralo. É fato. A manutenção do patrimônio é o osso, mas nenhum boi tem 200 quilos só disso. Tem também o filé. E é o equilíbrio entre os dois que dá em lucro, para ambos os lados – na economia dos cofres públicos e no faturamento do empresário.

A administração municipal conseguiu o mais difícil, que foi transformar o limão daquele patrimônio depredado, sujo e abandonado, no grande sucesso que é hoje. Tomara que encontre o caminho para evitar que agora, depois de quase todo o caminho andado, a Ponta Negra não perca o brilho. Seria o inacreditável retorno da limonada à condição de (azedíssimo) limão.

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