Manaus urgente

Curitiba foi tão bem governada por Jaime Lerner (em vários mandatos) que virou cidade à prova de maus Prefeitos. Mesmo que o gestor seja incapaz, certos mecanismos devidamente enraizados na prática administrativa servem para impedir o desastre.

Daí a presença do verde, dos belos parques. Do sistema de transporte mais eficaz do país. Há problemas, não é a perfeição, mas é sustentável e plenamente administrável.

Lerner adotou as medidas necessárias no tempo certo, dando rumo à cidade, tornando certas práticas e conquistas irreversíveis. Manaus, ao contrário e infelizmente, poucas vezes foi dirigida com coragem e desprendimento reais. Quase sempre foi vista como trampolim político. Quase nunca foi visualizada como um fim nela mesma. Sempre um meio, quase nunca um fim.

Manaus já foi bela cidade portuguesa. Seu centro histórico e seus monumentos (o Teatro Amazonas é o mais notável) encantavam visitantes e moradores. Seus igarapés de águas límpidas e frias banhavam corpos, almas, corações.

Cresceu desordenadamente. A postura pública passou a ser desrespeitada. O interior foi esvaziado economicamente e o êxodo foi na direção da capital, que se favelizou e encheu de mazelas: prostituição, criminalidade, bairros desorganizados, crescendo mais pela obstinação dos seus moradores que por orientação de Prefeitos.

Hoje, o medo impera. As pessoas de bem, a partir de certa hora, trancam-se em casa e os bandidos tomam conta das ruas, invertendo a ordem natural das coisas.

Manaus precisa de urgência. De recuperar o tempo perdido. De coragem. De gestores que tomem decisões sem se preocupar se a próxima eleição lhes será favorável ou não.

Precisa de diretrizes justas, que sejam implantadas sem recuos e se tornem irreversíveis. Precisa “curitibar-se”; recuperar o encanto; parar de sofrer com a tortura imposta aos usuários do precaríssimo sistema de transporte coletivo; ir virando-se de frente para o mágico rio Negro.

Precisa de amor. E amar não é mentir para a pessoa amada. É ser duro às vezes. É fazer o que precisa, dizer o que tem de ser ouvido, porque são os gigolôs – e não os verdadeiros amantes – a dizer somente o que agrada, fazendo da insinceridade sua arma de sedução.

É procurar fazer feliz quem a gente quer bem. E não se exercita o bem querer oferecendo drogas, que dão prazer fugaz, viciam e infelicitam, a quem merece carinho, respeito e futuro.

Manaus precisa de quem a ame com força. Não de quem a use como objeto descartável. Ou de quem entenda amor como a convivência enfadonha de pessoas que meramente se suportam, sem emoções, sem poetizar o cotidiano.

Manaus é homem? Que lhe ofereçam, então, neste momento, uma fêmea enérgica e sensual.

Manaus é mulher? Pois que lhe ofertem um macho alfa, capaz de senti-la e protegê-la.

 

Arthur Virgílio Neto

Arthur Virgílio Neto

* Arthur Virgílio Neto é diplomata, ex-líder do PSDB no Senado e prefeito de Manaus

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