Suframa, 45 anos: uma visão de Recursos Humanos

A pedra fundamental foi  lançada em 1968 e o objetivo era  instalar uma área industrial que trouxesse desenvolvimento para a região, com uma política de incentivos fiscais que encantasse  e atraísse investimentos, gerasse empregos e valorizasse o Estado.

O que a princípio parecia impossível transformou-se num modelo de sucesso e de exemplo para outros lugares, além de certas divergencias entre alguns Estados que nunca concordaram com o modelo aqui instalado.

Multinacionais, nacionais, empresas de todos os portes construíram suas filiais na área de isenção, obedecendo aos requisitos básicos para se beneficiarem  do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM).  A parte estrutural, burocrática, documental, instalação de máquinas e equipamentos, foi sem dúvida, a parte mais fácil do processo.

O desafio maior foi  preencher o quadro de pessoal, por várias razões que passo a enumerar, visto que fui parte ativa desse processo trabalhando na área de Seleção de Pessoal e  em outras áreas de RH, e onde o meu aprendizado e experiencia foi maior que em qualquer curso ou MBA que fiz, senão vejamos:

–  Falta de pessoas treinadas e qualificadas para as demandas das empresas, tudo era novo e a novidade tinha um preço alto a pagar.  Lembro que o meu chefe saía em uma kombi nas ruas da cidade abordando as pessoas para participarem do processo, que muitas vezes nem era necessário, tantas eram as vagas e tão poucos os candidatos. As rádios dos bairros, assim como os serviços de voz nos alto falantes dos carros passando em todas as ruas eram uma das formas de divulgação eficaz. Anúncios em jornais, cartazes em faculdades, panfletos distribuídos em pontos de onibus, eram outras formas utilizadas. Tudo era válido para que os candidatos chegassem até as empresas e entendessem o que estava acontecendo na questão de empregos, produção e  requisitos minimos. Os benefícios eram diferenciados e ajudava na escolha. Algumas empresas eram as  mais procuradas,  como a Phillips, Sharp, Bosch, Xerox, Evadin, todos queriam trabalhar nelas, se tranformavam em status.  Muitos profissionais foram trazidos de Campina Grande, São Paulo e outros Estados, porque os profissionais, principalmente da área de Engenharia, não atendiam à demanda local.  Tenho a convicção de que muitas novas famílias foram formadas  e reformadas nesse período. Maranhão, Fortaleza e Belém foram fornecedores de boa parte da mão-de-obra inicial da ZFM, além dos Municipios do Amazonas,  de onde os caboclos vinham em busca do sonho de um  emprego e da mudança de vida. Apesar da exigencia inicial de que cada empresa teria um investimento na área de agricultura, nos interiores, para que houvesse desenvolvimento local, a permanencia das pessoas e assentamento das famílias, isso foi uma boa idéia que não vingou…. A Sharp tinha uma fábrica de palmitos em Barcelos, a Jauari, que  extraía o palmito da pupunheira, uma delícia. Assim como a Sharp, outras empresas, como a Recofarma em Presidente Figueiredo, com  a Jayoro, na exploração da cana de açúcar.

– A montagem de placas, peças e componentes, era o básico do chão das fábricas, outras áreas faziam parte do processo produtivo, como a Engenharia de Produtos, Qualidade, Almoxarifado, Administrativo e Recursos Humanos. Dependendo do segmento, era necessário trabalho em turnos, o que dificultava para quem estudava.  Foram feitas parcerias com Sesi, Senai,  ETFAM, para treinamento e capacitação de novos funcionários.  Muitos daqueles que iniciaram na linha de produção seguiram carreira e chegaram até o nível de Gerencias, num reconhecimento do talento, do empenho e da competencia local.

– Foram criados vários grupos de trabalho, como o grupo de assistentes sociais, o grupo de administração de salários, grupo de recrutamento e seleção para troca de informações e compartilhamento de práticas que davam certo, após a implantação. Um grupo que ficou famoso pelos mitos e lendas sobre o que se discutia em suas reuniões foi o Grupo de Administradores de Pessoal (Gapem), onde  o foco era saber sobre a planilha de beneficios e seus valores.  As empresas  em conjunto tinham um  grande poder de negociação junto aos fornecedores, por exemplo de transportes, plano de saúde etc. o Grupo era formado pelos homens de RH e em 1987, eu e a Elaine Jinkings fomos as primeiras mulheres de RH a serem aprovadas  para participar das reuniões. Foi uma conquista que até hoje comemoramos. O Gapem foi transformado em ABRH AM, no ano de 2000.

– Como a maioria das empresas tem/tinham sua matriz  fora de Manaus, algumas politicas, procedimentos, programas, chegavam já prontos para implantar e nem sempre eram aceitos, porque a cultura local exigia os ajustes regionais, que demorou muito para que os dirigentes residentes entendessem e aceitassem que havia um modelo, estilo, um jeito de ser próprio.. Nesse ítem, o trabalho da área de RH foi fundamental para a mudança de visão, formas de gestão de pessoas e valorização da mão de obra local. O papel do sindicato  também foi importante nas melhorias e nas mudanças de postura e garantia dos direitos e benefícios dos trabalhadores.

Na trajetória dos 45 anos da ZFM, atual PIM , ampliou, inovou, evoluiu, transformou,  desenvolveu  e novos padrões de indicadores foram incorporados. Em 1992 as ISO´s chegaram e a Qualidade passou a ser requisito de auditoria,  a Responsabilidade Social passou a ter balanço próprio de inventariado na área social e humana. O programa As Melhores Empresas para se Trabalhar fez com que muitos procedimentos fossem refeitos e adaptados às dimensões de avaliação. O PNQ, o PQA, O PSH  são programas de premiações que reconhecem e valorizam as práticas na área de gestão e, claro, não dá para falar em gestão sem falar das pessoas, como diz Ulisses Tapajós, ¨pessoas felizes conseguem melhores resultados¨.

Aprendemos, construimos, desenvolvemos, participamos ativa e efetivamente de um modelo de sucesso, com o desafio de que o importante são as pessoas que colocaram o Amazonas na história do Brasil, através do modelo ZFM.

Parabéns a todos  aqueles que participaram desse modelo de desenvolvimento em construção.

Ozeneide Casanova

Ozeneide Casanova

Ozeneide Casanova Nogueira é advogada e assistente social, com MBA em Gestão de Pessoas (FGV-ISA...

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