Água e ônibus

Lisboa – A questão da água, que foi o centro do debate na eleição que me sucedeu na Prefeitura de Manaus, em 1992, volta à tona com toda força, nesta temporada pré-eleitoral. Da mesma forma, outro assunto que julguei equacionado em minha gestão, o transporte coletivo, está presente no noticiário com toda força.

Sobre a água, o ex-prefeito Serafim Corrêa está chamando um debate, envolvendo o atual prefeito, Amazonino Mendes, o senador Eduardo Braga e ele próprio, para esclarecer a população sobre a privatização do sistema (Amazonino), a repactuação feita com a Águas do Amazonas (Serafim), e Proama, Programa Águas para Manaus, de Braga e possível venda da concessão (Amazonino de novo).

Os três darão suas versões, com ou sem debate, como, aliás, já vem acontecendo. Lembro que, quando fui prefeito (1989-1992), o cólera estava se aproximando, vindo da fronteira brasileira com Colômbia e Peru, na região do Alto Solimões, e com Venezuela e Peru, no Alto Rio Negro. Trata-se de doença de veiculação hídrica e verdadeiro rastilho de pólvora no paiol abarrotado pela falta de saneamento da capital amazonense.

Trabalhamos muito. Uma de nossas providências, convivendo com a Cosama, de triste memória, foi distribuir hipoclorito para colocar nas caixas d’água e deitamos a construir poços artesianos, na região periférica. O Jorge Teixeira, bairro que construímos como modelo, com ruas largas, sem beco e com espaço reservado para escola, comércio, indústria, posto médico, feira e delegacia, no que hoje se constitui o Jorge Teixeira 1, tomava água mineral. O mesmo se repetia em vários outros bairros, como o Zumbi 1.

Nada de excepcional. Tivemos ajuda do Governo Federal e ou fazíamos isso ou o cólera ceifava milhares de vida.

A síntese é que resolvemos o abastecimento d’água em vários bairros. Deixei a Prefeitura com a sensação de termos construído uma prática que, se continuada, mudaria em definitivo esse realismo fantástico, à Gabriel García Márquez, que é a cidade banhada pelos rios Negro e Solimões não oferecer água potável e abundante nas torneiras de seus cidadãos.

No transporte coletivo, a renovação ora em andamento repete o que fizemos em minha gestão. Trocamos os ônibus mais velhos do Brasil por outros, que constituíram a segunda frota mais nova do País, atrás apenas de Curitiba (PR), que havia acabado de passar por processo semelhante. Não supunha que isso seria necessário outra vez, passados 20 anos de minha administração, completados neste 2012, porque bastaria manter o sistema sob vigilância e a idade média não alcançaria os patamares inacreditáveis que alcançou, chegando a atingir a caduquice dos cacarecos, tantas vezes vistos em pane pelas ruas.

Água e ônibus são necessidades fundamentais da população. O manauara não aceita continuar sendo submetido à má gestão de concessionárias, fato que se estende à deplorável Amazonas Energia – o Governo Federal não pode deixar os amazonenses sem resposta a esse imbróglio dos contadores não lidos, que redundaram em contas superfaturadas.

Essas coisas precisam ser resolvidas de imediato.

Arthur Virgílio Neto

Arthur Virgílio Neto

* Arthur Virgílio Neto é diplomata, ex-líder do PSDB no Senado e prefeito de Manaus

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1 comentário

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  1. Wallace disse:

    Caro, Arthur Neto.

    Gostaria de lhe apresentar como sugestão para o seu próximo artigo, o seguinte tema:

    A TRANSFERÊNCIA DAS MATRIZES DAS INDUSTRIAS DE MANAUS PARA OUTROS ESTADOS.

    No ultima reunião do CAS da Suframa (veja abaixo) a empresa LG ELECT. DA AMAZONIA, foi incorporada e teve a matriz que era em Manaus TRANSFERIDA para São Paulo.

    Esta é uma operação que muitas MULTINACIONAIS estão fazendo para:

    1 – Obter créditos de impostos, já que em Manaus as indústrias são incentivadas e não podem se utilizar dos créditos;

    Com esta opção de transferência da matriz para outros estados, Manaus perde:

    1 – Empregos, pois com a transferência vários setores das áreas administrativa, financeira, advocacia, contábil, logística, comercio exterior, deixam de existir na unidade fabril em Manaus;

    2 – Cargos de Diretoria, Gerencia, Supervisores e outros cargos que fazem parte do item 1 acima mencionado;

    3 – Deixa de gerar impostos federais no estado do Amazonas;

    4 – Utilizando-se como base uma média de 200 indústrias que já transferiram suas matrizes e os setores acima mencionado temos uma perda anual de mais de 1 bilhão de reais de salários gerados na cidade de Manaus.

    Outra situação que nos deixa muito preocupados e sob alerta constante é que mais de 3000 bacharéis são disponibilizados no mercado de Manaus anualmente, e com as transferências dos setores conforme já mencionado no item 1 acima, nós Manauaras não temos que ir embora de Manaus a procura de novas alternativas de empregos em outros estados, e o pior é que nenhum conselho de classe, sindicatos, políticos não estão tomando nenhuma atitude para esta operação que esta esvaziando os empregos em Manaus.

    Lembre-se da situação que aconteceu nos anos 80 e 90, quando os câmbios deixaram de ser fechados em Manaus pelas industrias e foram transferidos para São Paulo, como resultados tivemos o fechamento de grandes bancos (muitos deles multinacionais) que estavam instalados em Manaus, os bancários perderam empregos e os industriários que trabalhavam no setor de cambio também perderam seus empregos.

    Abaixo comunicado da ultima reunião do CAS.

    CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA SUFRAMA – CAS
    PAUTA DA 255ª REUNIÃO ORDINÁRIA
    DATA: 28 de fevereiro de 2012
    HORA: 14h00
    N.º 014/12 – Comunicamos a Vossas Senhorias, em cumprimento ao que determina o Art. 60 da Resolução nº 202, de 17 de maio de 2006, que esta Superintendência anuiu a 48ª Alteração Contratual proposta pela empresa LG ELECTRONICS DA AMAZÔNIA LTDA, com inscrição SUFRAMA 20.0606.01-8 e CNPJ nº 00.801.450/0001-83, na qual ocorre a reorganização societária que resultará na sua incorporação e subsequente transformação em filial da sócia LG ELECTRONICS DE SÃO PAULO LTDA, CNPJ nº 01.166.372/0001-55, conforme Portaria nº 410, de 28/12/2011 com publicação no D.O.U. nº 2 em 03/01/2012, fundamentado no inciso I do Art. 51, da Resolução nº 202/2006, nos termos da Nota Técnica nº 441/2011-SPR/CGAPI/COPIN.

    Atenciosamente,

    Wallace Monteiro
    Manaus – Am.