Futebol fraco

Um gaiato, não sei por que artes e travessuras, fez contar, nos ingressos de recente jogo aqui ocorrido, a expressão “futebol amazonense fraco”. Pode ter sido importuno. Impertinente, vá lá. O que não se lhe pode é atribuir a pecha de mentiroso. Isso, nunca, porque o pândego está coberto de razão e apenas traduziu o sentimento que vai n’alma de quantos, amantes daquele esporte, contemplam impotentes e infelizes o nível a que chegamos.

E olha que nem carece de invocar a lendária figura de Paulo Onety. Quando ainda se jogava futebol no Amazonas, lá pela década dos anos 70, havia os irmãos Piola, Rolinha, Marialvo, Pepeta, Clóvis, Dermilson, Purgante e outros tantos craques que a memória, já cansada, não me ajuda a lembrar neste correr de teclado. Os mais entendidos, como mestre Carlos Zamith, hão de suprir a lacuna para deixar evidenciado o que todos sabem e que apenas me limito a enunciar com modéstia.

Há coisa de quatro anos escrevia eu o seguinte: “Na terça-feira fui ao Roda Viva, na TV Cultura. Antes, assisti a um programa de esportes, cujos participantes encontrei à saída da emissora. Cumprimentei com a mais absoluta sinceridade ao Waldir Correia, Orlando Rebelo e seus companheiros de equipe. Tinha que fazê-lo, em reconhecimento à indiscutível dedicação que aqueles homens têm ao esporte, principalmente o futebol. Torcedor do Fast Clube desde criancinha, tenho vivido um processo constante de desilusões e fracassos. Basta ver que meu time não ganha um campeonato estadual há trinta e sete anos. É motivo suficiente para ter saudades imorredouras dos tempos de Paulo Onety e Edson Piola, quando o Nacional era nosso freguês”.

De lá para cá, a única coisa que mudou foi que tivemos a infelicidade de perder precocemente o Orlando Rebelo. Mas, se se quiser insistir em que houve alguma outra mudança, forçoso será reconhecer que o futebol amazonense conseguiu o que parecia impossível: ficou ainda pior. No texto anterior, havia o seguinte trecho: “Disse ao Waldir que, na opinião de um amigo, também do ramo, a culpa por essa derrocada do futebol amazonense era exclusivamente da Federação. Ele, com inegável autoridade, foi enfático na negativa, com argumento mais ou menos assim alinhado: “A Federação não contrata técnicos nem jogadores e muito menos disputa os certames”.

Mesmo eu, que sou um mero espectador, captei a mensagem: a cartolagem é a praga do esporte e, uma vez implantada na bananeira, vai contaminar todo o bananal, de tal maneira que os frutos já nascem imprestáveis.

Mas eis senão quando, no curso de todo esse pessimismo, o Penarol vem de derrotar o Santa Cruz, lá dentro do Recife, classificando-se para a próxima fase desse caça-níqueis que é a Copa do Brasil. Os crentes que se ponham em postura de oração e agradeçam a realização do milagre. A quem, não sei dizer, até porque não é do meu conhecimento que, pelo menos na Igreja Católica, exista algum santo padroeiro do futebol. Se existe, há muito se esqueceu de estender seu santo olhar aqui para estas plagas de Ajuricaba, onde o esporte vem sendo praticado, com dedicação e perseverança, entre o Arranca Toco Futebol Clube e os Inimigos da Pelota Esporte Clube.

Felix Valois

Felix Valois

* Félix Valois é advogado, professor universitário e integrou a comissão de juristas instituída p...

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