Fui ao supermercado fazer as compras do mês e a caixa perguntou se eu era político. Respondi que era deputado. E Ela: “eu reconheci o senhor, mas não sabia que deputado fazia supermercado”. Após algumas risadas, disse que faço supermercado e tenho uma vida como qualquer cidadão.
Dias após esse episódio, fui ao estádio de futebol. Na entrada, o policial, seguindo sua rotina, abordou-me e passou a fazer a revista, quando foi repreendido pelo seu colega, que disse: “não, não, ele é deputado”. Respondi: faça o seu trabalho! A revista foi feita e não me tirou pedaço.
O Brasil criou a imagem do político como uma casta superior, sujeitos de regalias e beneficiários de bajulações. Políticos são aqueles que, na imagem das pessoas, não vão ao supermercado, não são revistados, não enfrentam filas. É certo que a maioria dos homens públicos faz questão de postar-se como esse ser superior e intocável.
Num belo texto publicado na folha de São Paulo, Ruben Alves comparou o político a um jardineiro.
Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oases. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu ‘o que é política?’, ele nos responderia, ‘a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas’.
Assim, longe de ser uma casta superior, o político deve ser um jardineiro. Trabalhador simples, fazedor do seu trabalho por amor (vocação), cumpridor das leis e dedicado ao seu ofício de transformar o deserto da corrupção, do desvio de conduta e do desperdício da coisa pública, no jardim da ética, da transparência e da eficiência administrativa. Enfim, transformar as areias da desilusão, no grande oases da esperança.
Para cumprir tal missão, é preciso coragem pra lutar, mas também coragem pra reconhecer que por trás do político há um ser humano com suas angústias, sofrimentos, fraquezas, que muitas vezes está cuidado do jardim com o coração cheio de dor.
Por Marcos Santos
Marcelo Ramos
* Marcelo Ramos (PSB-AM) é deputado estadual.
Deixe um comentário