Zona Franca, 45 anos como maior tesouro dos políticos

Se todos os mandatos e manutenção deles, obtidos com a famosa “defesa da Zona Franca”, fossem contabilizados como recursos para o povo do Amazonas, o Estado seria disparado o mais rico do Brasil. Em A Crítica, a gente até brincava, com os colegas que iam cobrir uma nova caravana, em Brasília: “Lá vai a Vera Lúcia, nossa guerreira da defesa da Zona Franca”.

O único político que fez autocrítica em relação ao modelo foi Amazonino Mendes. Ele disse: “Usamos muito mal o dinheiro que o resto do Brasil nos oferece, via renúncia fiscal, na Zona Franca de Manaus, desde 1968”.

Certo que Amazonino falava no contexto de uma das suas recentes turras com o ex-governador e hoje senador Eduardo Braga. Calculou (mal, acho) que como o atual adversário terminava oito anos como governador, sobre ele recairia a maior parcela de culpa, diante da opinião pública.

Reparo feito, Amazonino tem razão.

É inadmissível, para começar, que os poucos impostos arrecadados pela Suframa sejam confiscados, a título de superávit primário, pelo Governo Federal. Ao mesmo tempo, os lobistas de todas as latitudes abrem o peito e dizem que o Amazonas é um grande paraíso fiscal! Com o Tesouro Nacional metendo a mão desse jeito, impiedosamente, o Estado perde um bilhãozinho daqui, outro dali, que daria para fazer uma ponte aqui, outra acolá.

Verdade é que a Suframa é uma instituição híbrida. Cercada de escândalos – teve até incêndio, que levou justamente os documentos que a Polícia Federal precisava ter em mãos para trancafiar os ladrões de plantão – a instituição é um feudo dos governadores amazonenses. Basta ver como Omar Aziz foi decisivo na nomeação do atual, Thomaz Nogueira, que, aliás, também tinha o apoio do ex-governador Eduardo Braga.

Qual é o objetivo da Zona Franca? Aumentar os lucros das multinacionais? Não. Oferecer ao Amazonas os recursos básicos para o seu desenvolvimento. A cada bilhão de dólares que Philco, Samsung, Honda ou LG mandassem para o exterior ficaria no Estado uma parte para ser aplicado em saneamento básico e infraestrutura. Não deu. E eu provo: nem o asfaltamento do distrito industrial ficou de pé.

A profecia, que muito governista fez, quando ainda era comunista – ou antes de se tornar comunista-governista – de que um dia todas as fábricas levantariam acampamento e deixariam o Amazonas de pires na mão, não se realizou pela via esperada. Talvez venha por outro viés, que antigos “companheiros” dirão tratar-se de “contradição do capitalismo”: o avanço tecnológico. Mas essa profecia só se realizará se o Amazonas não correr para superar a Era da Pré-Tecnologia. Os tempos dirão.

Brindo aos 45 anos da Zona Franca de Manaus. Tem empresário e político que brindará com legítima Dom Pérignon safrada, champanhe de 5 mil euros. Já é tempo de fazer o modelo voltar aos seus reais objetivos.

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2 comentários

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  1. Funcionario disse:

    Marcos,

    Se a Suframa fosse tão boa assim, como você diz, muitos problemas que o Estado sofre, não aconteceriam.

    Se a Suframa, antro de cabide de emprego, tivesse feito o trabalho deles, muitos “Institutos de Pesquisa” que usam o dinheiro da lei de informática não teriam “lavado” da área assim. Por exemplo, em 2004, o P&D da Siemens gastava dinheiro loucamente, mas quando a teta secou, Quality, DBA, Fundação Paulo Feitosa, Genius entre outros foram embora da cidade, não deixando nenhum legado. A FPF ainda continua aqui (aos troncos e barrancos).

    A Suframa é uma grande palhaçada. Este “Antro” deixa os empresários aqui se instalarem, abusarem do poder político e evadirem divisas para outros Estados. A Gradiente faliu e ainda levou o Genius no barco.

    Quem é o empresário que trouxe empresa para Manaus e deixou um legado tecnológico?

    Suframa é uma palhaçada!

  2. Everaldo Filho disse:

    Sem comentários excelente relato da ZFM, me lembra a história da seca do nordeste que deu muitos mandatos a políticos até hoje comendo da gordura das ovelhas ou a transamazônica. O modelo Zona Franca é excelente o que precisa “urgentemente” ser revisto é o modal, pois se arrecada muito e o Estado não se desenvolve junto (se dependesse da ZFM), a infra-estrutura do distrito pede um choque de gestão.