Um mistério completo

Leio na Wikipédia a biografia de Stephen Hawking que “é um físico teórico e cosmólogo britânico e um dos mais consagrados cientistas da atualidade”. Há algum tempo me aventurei à leitura da tradução brasileira de seu livro intitulado “Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros”, que a editora Rocco publicou em 1988. Parei antes da metade. Bem antes. Não que o livro tenha a chatice de “Grandes Sertões: Veredas”, de cuja décima quinta página jamais consegui passar, apesar das diversas tentativas, cuido que umas vinte. Deu-se que, apesar de a linguagem da tradução ser muito agradável, a minha substancial ignorância da matéria científica me tolhia a capacidade de raciocínio e tornava ininteligíveis conceitos que devem de ser gritante primariedade. Não é para menos. O autor, diz a biografia, é “Doutor em cosmologia e foi professor lucasiano na Universidade de Cambridge (posto que foi ocupado por Isaac Newton)”. Não haveria de ser eu, em cujo currículo não consta uma nota dez em matemática ou física, que haveria de entender, mesmo explicados de forma singela, os complexos problemas da formação do universo, afastadas, como é evidente, as lendas do barro e do paraíso.

Pois muito que bem. Esse gênio da ciência, às vésperas de completar setenta anos, concedeu entrevista à revista New Cientist, que lhe indagou qual, na sua opinião, é o maior mistério do universo. O professor respondeu sem hesitar: “As mulheres. Elas são um mistério completo”. Já se vê que a sisudez da ciência não prejudica necessariamente o senso de humor. E note-se que o doutor Hawking padece de uma doença conhecida pelo sinistro nome de esclerose lateral amiotrófica (ELA, por coincidência), estando hoje quase completamente paralisado.

Parece-me que seria de todo em todo conveniente que o meu amigo Simão Pessoa expendesse sua opinião sobre a posição do gênio cambridgeano. Simão tem uma obra vastíssima em que, ao lado do folclore político, as mulheres ocupam lugar de merecido destaque, não tendo sido por casualidade que ele produziu O Manual do Canalha. Sendo assim profundo conhecedor do assunto, Simão Pessoa poderia levar a cabo um seminário explicativo, com no máximo, digamos, cinco palestras, em que nos daria a nós, pobres leigos, a noção exata de qual é esse mistério do sexo feminino, não esquecendo que o professor Hawking fez questão de acrescentar o adjetivo “completo”.

Das mulheres já se disse tudo. Ou quase tudo. Respeitosamente e, às vezes, nem tanto. Um implacável crítico, por exemplo, afirmou que o primeiro poeta a compará-las com uma flor era um gênio. Os que se lhe seguiram, rematados imbecis. Camões chamou sua eleita de “alma minha gentil”, pedindo-lhe que reservasse lugar “lá no assento etéreo”. Machado de Assis se considerou também morto depois da partida de sua Carolina e lhe dedicou soneto inesquecível. O vulgo, por seu turno, insiste na afirmativa de que não existe homem impotente, apenas mulher incompetente. E Martinho da Vila canta em prosa e verso que já teve “mulheres de todos os tipos, do tipo acanhada, do tipo atrevida”. Isso para não falar das donzelas e meretrizes.

De minha parte, fico à espera do seminário. Acho que dele vou sair pelo menos com a explicação de por quê a sabedoria popular insiste em que é preciso ter cuidado, muito cuidado, com quem usa saia: mulher, padre e juiz. Estou no aguardo, querido Simão.

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