O Prêmio Milton de Magalhães Cordeiro

Tínhamos, esta noite, eu e Ronaldo Tiradentes, dois compromissos aos quais os dois devíamos comparecer. Escolhemos os que ficavam mais perto da casa de cada e um representou o outro. A ele coube nos representar no evento em que Milton de Magalhães Cordeiro se tornou nome de prêmio instituído pela Rede Amazônica. Purgo aqui a descortesia, com esse que foi um dos maiores cavalheiros que passou por minha vida profissional.

Formamos, na década de 80, na TV Amazonas, um time com o que havia de mais atuante e qualificado no jornalismo amazonense. Era uma de minhas primeiras experiências em TV e, portanto, não vai aqui nenhum auto-elogio, mas era um timaço, cheio de amigos e afins, profissionais que solidificaram essa relação antes e depois, nos bastidores ou na linha de frente das redações.

Não vou falar nomes, mas admito, não sem alguma surpresa, que o amálgama daquela equipe chamava-se Milton Cordeiro. Ele sabia muito bem o que queriam a direção e a redação, costurando com maestria as necessidades de ambos. Até o limite.

Fizemos a greve. Perdi um amigo querido, com o qual reunia todo fim de tarde, discutindo pauta, analisando quadro econômico e político do Estado, traçando cenários, aprendendo muito. Ele sabe, hoje, que, como trabalhador, eu não tinha outro caminho a não ser ficar do lado dos companheiros, num movimento que contou com a unanimidade dos que militavam naquela redação. Sei ser amigo à distância, sem esperar nada em troca, e fiz minha parte para provar isso quando tive a oportunidade de fazê-lo.

Pois bem, terminada a famosa greve da TV Amazonas e o tempo da estabilidade negociado, Milton Cordeiro me chama em sua sala e me convida para permanecer na casa. Entendo profundamente o que aquilo significou de sacrifício pessoal. Até hoje não sei se foi apenas um gesto de cortesia, na certeza de que eu não poderia aceitar. Sei que ele estava antevendo o que viria depois, para mim e outros companheiros, quando enfrentamos inúmeras dificuldades profissionais. Todos, ainda bem, conseguiram superar tudo. Mas ficou a marca de um grande coração e a honra de ter sido escolhido por uma sensibilidade aguçada para tocar o dia seguinte.

Claro que meu tempo ali havia passado. O que não passou e fica para sempre é o gesto de Milton Cordeiro, cujo olhar carinhoso sempre me encontra, com a cordialidade que é sua grande marca pessoal, num supermercado, numa padaria, num canto qualquer da vida, deixando bem claro que a bondade humana existe, mesmo que esteja escondida sob o manto de um aparentemente duro gerente de pessoas – fica aqui a dica para o pessoal que trabalha sob seu comando, hoje: quem penetra a capa de dureza que ele usa, percebe muito bem como esse cara é gente boa e as lágrimas derramadas no anúncio do prêmio denunciam isso.

Parabéns, Milton Cordeiro, pela homenagem. O prêmio é mais que merecido.

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