Indústria nova na Zona Franca traz motivação para dormir em berço esplêndido

Quando leio as pautas das reuniões do Conselho de Desenvolvimento do Amazonas (Codam) e do Conselho de Administração da Suframa (CAS) fico trêmulo. São dezenas de novas fábricas querendo se instalar em Manaus, milhões e milhões em investimentos e milhares de empregos chegando. Com os incentivos fiscais trabalhando como uma usina, impulsionando esse aparente desenvolvimento, movimentando a atividade econômica, as autoridades governamentais, federais, estaduais e municipais, não se dispõem a fazer mais nada pelo Estado.

Pernambuco, sem os incentivos fiscais e vantagens comparativas da Zona Franca, atraiu o porto de Suape, o maior da América Latina, fez o Porto Digital de Recife, que produz e exporta softwares para o mundo inteiro, e agora está levando para lá a primeira fábrica da Sadia no Norte e Nordeste, oferecendo 5 mil empregos.

Olho para as enormes filas de carros engarrafados na ponte Rio Negro e vejo aí uma economia pulsante, uma demanda reprimida gritando para enriquecer empreendedores, e, como resposta, nada. Afinal, o Codam e o CAS estão recebendo mais e mais propostas de novas empresas interessadas em vampirizar o Estado e seus incentivos fiscais. E isso tem sido o bastante para aplacar qualquer possibilidade de criatividade no planejamento do futuro do Estado.

Iranduba, Manacapuru e Novo Airão são os novos Eldorados amazonenses. Praias belíssimas, terras baratas, o rio Negro em todo seu esplendor, de um lado, e o rio Solimões, de outro, descortinam-se à espera de investimentos. Mas a forma de explorá-los, de novo, é levar até eles os incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus. Parece uma maldição. Não conseguimos pensar em mais nada.

O presidente do Senado, José Sarney, quer estender para o Amapá e o Maranhão esses incentivos fiscais. Talvez aí a gente comece a pensar para valer em outras saídas.

O Amazonas é maior que a Zona Franca, mas insiste em se curvar a ela.

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6 comentários

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  1. afonso celso disse:

    brilhante comentario marcos santos…isso mostra a sua visão estratégica..o seu preparo e o modo de criticar com inteligencia..indo direto ao ponto…falta e sempre faltou justamente essas qualidades nos homens públicos…vc descortinou com realismo absoluto a real situação socio politico e economico do nosso estado..em pauta curtinha..sintetiza a verdade que os cegos não querem enxergar…e ainda se acham…é justamente por pensar como vc que eu não os respeito…meto o pau mermo sem dó nesse bando de fdps.

  2. Maria Jose disse:

    Nossa cidade merece mesmo um olhar além da zona franca, porém ainda vamos precisar de muitos anos até os governantes e o proprio povo acordarem para o novo mundo. Nossa cultura continua sendo: o jaraqui com farinha todo dia e tudo bem;;;

    Maria José

  3. Marco disse:

    O modelo ZFM é sem dúvida um motor de desenvolvimento extraordinário. Como pontapé inicial, podemos dizer que foi um sucesso sem igual. Contudo, a se continuar nessa dependência, seria no mínimo desconfortável isso para não falar perigoso. Temos que pensar em nos desatrelar deste vinculo que começa nos cair como um fardo. A Zona Franca pode até durar para sempre, porém, no dia em que houver uma (mesmo que pequena) reforma tributária, desonerando certos impostos em todo território nacional, teremos sérios problemas com nosso motor, e aí será tarde e não teremos espaço para manobra.

  4. Thomas Staudinger disse:

    Amigo Marcos,
    Sou de Pernambuco e te digo que não dá para comparar. Pernambuco fica no centro do Nordeste, ao norte tem Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará e ao sul tem Alagoas, Sergipe e Bahia, além do que pelo oceano em linha reta, tem a Europa, por isso não precisa de incentivos iguais aos daqui que fica longe de tudo. Outro dia ouvi você e seu parceiro chamar Pernambuco de tecnologia de Cactos, como se lá não houvesse desenvolvimento tecnológico e cultural. Parabéns pelo Blog, muito bom !

    RESPOSTA:
    Staudinger, obrigado pela participação. Você fala de aspectos logísticos e tem toda razão. Pernambuco só está usando a posição geográfica privilegiada para acelerar o desenvolvimento. Mas você já pensou se a China se curvasse à distância? Isso se tornaria um obstáculo intransponível ao seu crescimento. Longe disso, porém, a China soube avançar até essa inegável posição de locomotiva mundial.
    Tudo o que você diz sobre Pernambuco é verdade. E vou publicar, em instantes, o vídeo que recebi sobre o Estado, comprovando isso. Mas muitos também dirão que é covardia competir conosco, uma vez que temos a Floresta Amazônica e esse enorme manancial de água doce – pegue uma garrafinha de água mineral, na esquina, com 250ml (um quarto de litro), vendida a R$ 2,00 e compare com o litro da gasolina (quatro vezes mais) a R$ 2,88.
    É disso que falo.
    A imagem da “tecnologia de Cactos”, Staudinger, não foi minha.
    Grande abraço.

  5. FRANCISCO R. CRUZ disse:

    Caro Marcos,
    Estamos num igarapé. Há 44 anos navegamos nele. Às suas margens têm inúmeras saídas, que a inércia não nos permite enxergar. Preferimos ficar nessa “zona de conforto”. Qualquer dia um navio nos atropela e,só ai então, vamos perceber que faltou a iluminação da ponte que ficou pronta. Muitos naufragarão.
    Parabéns. Belíssimo comentário.
    Cruz

  6. Homero Cerizza disse:

    Marcos, comentário muito apropriado.Porque os empresários locais também não se mobilizam? Esta inércia também colabora para o descaso que hoje se vê. Afinal, quando não se sabe onde chegar, qualquer caminho serve.
    Homero