Gestão do trânsito pode transformar ponte de uma limonada em um limão

Quando alguém se depara com um problemão, aparentemente insolúvel, e outrem apresenta uma solução brilhante, o ditado popular afirma que esse alguém transformou um limão numa limonada. No caso da ponte Rio Negro, como se viu neste fim de semana, a gestão do trânsito pode acabar transformando o que parecia uma grande solução e, portanto, uma limonada, num limão, um retrocesso inadmissível.

O que se acreditava que seria um maná dos deuses em termos de escoamento dos veículos, eliminando meia década de sofrimento na travessia por balsa, acabou revelando um engarrafamento que bateu todos os recordes do sistema anterior. Antes, o engarrafamento chegou a oito quilômetros de fila. Ontem, por volta das 22h, havia carro se arrastando no KM-40 da rodovia Manoel Urbano.

O que houve? A ponte foi inaugurada sem que tenha sido colocada sequer uma placa limitando a velocidade na estrada Iranduba-Manacapuru. A sinalização horizontal não existe em quase toda a via e onde existe está apagando. Uma patrulha e funcionários do Detran-AM na entrada da ponte, outra na saída e uma terceira na entrada de Iranduba são os únicos pontos de fiscalização policial.

Todos sabiam, finalmente, que a rodovia seria um problema, com apenas uma pista indo e outra voltando. Basta um carro ficar em pane no caminho para que tudo congestione. E ontem nem precisou de pane, a má educação fez com que motoristas tentassem ultrapassar na marra, inclusive usando o acostamento, e acabaram-se criando até cinco filas – numa pista onde mal cabem duas.

A Prefeitura de Manaus também contribuiu, claro, ao manter o mesmo tempo de sinal na avenida Brasil, como se a ponte sequer tivesse sido inaugurada, “colaborando” com o pessoal do Detran-AM que criou uma barreira, afunilando o trânsito de duas para uma pista, na volta dos dezenas de milhares de carros.

Aguardem, pois é até possível que apareça algum “gênio” dizendo que a solução é não usar a ponte, por enquanto. “Aconselho o povo a esperar um pouco mais, que a ponte não vai acabar agora. Esperem até que essa moda passe”, parece inacreditável, mas dirá essa figura. Duvido que ele aceite a tradução disso: “Olha, pessoal, nós gastamos R$ 1 bilhão para construir essa ponte, mas não é para vocês usarem agora não. É só pra ficar olhando de longe”.

Três ouvintes do CBN Manaus disseram que a curiosidade sobre a ponte foi tanta, que todos, com algum tipo de irregularidade, resolveram encará-la: o primeiro está sem a placa frontal, sem carteira de habilitação e com o documento do carro irregular; o segundo está com a habilitação vencida e com o IPVA atrasado; o terceiro também está com a carteira vencida. Os três atravessaram, foram até o Açutuba, tomaram banho, beberam umas cervejas e retornaram à noite, sem qualquer problema no trajeto inteiro.

Os moradores da Vila Marinha e da Compensa 3, que ficam de um lado e de outro da Estrada da Estanave, perderam o direito de fazer o retorno tradicional, fechado por conta da ponte, e são obrigados a ir em Iranduba, contribuindo para aumentar o fluxo nesse trajeto, sem necessidade.

Claro que tudo isso não seria um problemão sem 40 mil carros atravessando a ponte. Mas resolvendo essas questões, o fluxo na ponte e na AM-070 ficará bem melhor.

A ponte está incorporada ao dia-a-dia dos cidadãos manauaras. A realidade está aí para ser encarada e não escamoteada. O erro está na administração da ponte e suas consequências. Ou se resolve isso ou daqui a pouco teremos protestos, em Manaus, Iranduba, Manacapuru e Novo Airão, com o povo nas ruas portando cartazes com os dizeres: “Derrubem a ponte, queremos as balsas de volta”.

PMS.AM

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Por Marcos Santos