‘O Estado não fez nada. Essa medalha é esforço da família’

O governador Omar Aziz disse hoje o que todo governante sensato deveria dizer, em relação às presença do Governo do Estado no incentivo ao esporte de alto rendimento, quando indagado sobre a medalha de ouro conquistada pela amazonense Bianca Maia, no Pan-Americano de Guadalajara, México, na ginástica rítmica: “Fico orgulhoso, como amazonense, por essa conquista, mas não tivemos nenhuma participação nisso, enquanto Governo do Estado. Foi esforço apenas da família e todos os méritos são deles”.

Há uma divisão muito clara, estabelecida tradicionalmente (uma lei consuetudinária, digamos), dos papéis dos entes federativos no esporte. Os Governos Estaduais cuidariam do esporte de alto rendimento, incentivando as federações esportivas e oferecendo estrutura aos atletas de ponta. As prefeituras ficariam com o chamado esporte recreativo, trabalhando no incentivo à população em geral para combater o sedentarismo através da prática desportiva.

É claro que ninguém gosta de fazer um investimento invisível. Para o político, seja ele detentor de mandato ou ocupante de um cargo como o de secretário estadual ou municipal de Esporte, o que interessa é fazer muito barulho e faturar mídia.

Quando Roberto Gesta trouxe grandes treinadores para a Vila Olímpica e começou a fazer o trabalho de base para colher frutos em 10, 15, 20 anos, todo mundo começou a cobrar resultados. O governador Amazonino Mendes foi duramente criticado porque gastava muito dinheiro “com o Gesta”. E veio Eduardo Braga e encerrou tudo, abruptamente, vetando a renovação dos convênios que garantiam a estrutura montada pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) na Vila Olímpica Umberto Calderaro Filho.

O esporte amazonense de alto nível afundou. O talento que já estava amadurecendo encontrou guarida em outros Estados, caso da mesatenista Lígia Santos e do velocista Sandro Adriano – e chega a ser simplório alguém dizer que o Estado ajuda o Sandro com uma tal “bolsa atleta”, mísera, inexpressiva, que atrasa mais que ônibus urbano da cidade.

Hoje temos outros, no Pan-Americano, além de Bianca Maia (volto a ela já), mas nenhum inteiramente formado no Amazonas.

Sandro Viana disputa os 4×100 do atletismo. Ailson Eráclito da Silva vai disputar o remo. Lígia Santos vai no tênis de mesa. E Daynara Lopes Ferreira de Paula, 22 anos, manauara sim senhor, ganhou prata nos 100m borboleta e no revezamento 4 x 100 livre da natação – e quase passou despercebida por aqui.

Bianca tem uma história que me é cara. E próxima.

Conheço Samia Maia, a mãe dela, desde quando ainda morava em Parintins. Partilhei, com amigos comuns, a luta dela pela ginástica rítmica, desde os tempos em que ainda era estudante de Educação Física na Ufam. Casou com o Kleist Mendonça, outro apaixonado pelo esporte, que perambulava pelas redações em busca da divulgação das competições de orientação que coordenava. Desse casamento nasceu Bianca Maia. E desse clima, de dedicação concentrada ao esporte, nasceu a medalha de ouro brasileira na ginástica rítmica.

Omar tem razão, o Estado está fazendo muito pouco pelo esporte. É uma boa hora para começar a fazer mais.

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3 comentários

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  1. Antonio Almeida disse:

    O artigo é muito bom… mas fique registrado aqui..

    Não é “claro que ninguém gosta de fazer um investimento invisível”

    Não mesmo…. olhe o Brasil de verdade…

  2. Waldir Frazão disse:

    Texto perfeito. Também vale destacar o trabalho da Federação Amazonense de Ginástica com a Profa. Verônica Martins.

  3. TIO LEO disse:

    Parabéns a sensatez do Governador Omar. Espero que certas fotos com a menina não venham preencher alguns albuns na internet.