Como Jobs me ajudou a sobreviver aos anos de chumbo

Steve Jobs se foi, neste 5 de outubro, e com ele todo o carisma de um ser criativo que primeiro tornou a criação imensa, depois deu a volta por cima e se tornou maior que a criatura. Sim, Jobs era maior que a Apple.

Nizan Guanaes, o gênio criativo da DM9 e máquina propulsora da locomotiva publicitária que fatura milhões, criador do IG e hoje também dono da África, batucava numa Olivetti Lettera os títulos da campanha de dois anos da Prefeitura de Manaus, em 1990, que concebíamos juntos, ele, Valdo Garcia e eu. Escrevia, puxava o papel e mandava lá para trás, “para o Clark e o Marcelo”. Terminado o processo criativo, fomos nós ver qual era esse destino, onde já estava o  Sérgio Bastos, hoje na VT4, e encontramos o Clark, diretor de arte da empresa, que se tornou nome famoso da publicidade nacional, e Marcello Pasotti, o “operador de Macintosh”.

Ficamos tão fascinados com o que fazia aquela máquina, um Apple Macintosh, que o Valdo, devidamente combinado com o Nizan e incentivado por mim, comprou um para sua agência, contratou o Marcelo e o trouxe para Manaus.

Esse fascínio da Apple logo ganhou o charme – ou o obstáculo – de se tornar “coisa de rico”.

Perdi o contato, quase em seguida, por alguns anos. Até que ganhei um PowerBook 50, o primeiro computador portátil da Apple. Quando brincamos de Imagem&Ação, em família, somente Tereza aceita ser minha parceira porque sou péssimo em desenho. Mesmo assim, durante vários anos, esse pequeno artefato foi a fonte do meu sustento. Fiz de tudo, inclusive aplicação de logomarcas e mesmo criação de algumas delas, as mais simples, claro, contando com a ajuda desse computador que tinha inacreditáveis 40 Megabytes de HD – isso mesmo, 40 megas, um percentual mínimo do MacBook Pro com HD flash em Gigabits no qual hoje trabalho.

Foi com aquele PB50 que sobrevivi aos três anos de chumbo do pós-prefeitura, quando, com a derrota do grupo político com o qual trabalhava, fui embrulhado num mesmo pacote como persona non grata pelos veículos de comunicação – com exceção de Umberto Calderaro, pessoalmente primeiro e depois ao me admitir em A Crítica.

Meus filhos, quando veem meus olhos brilharem diante de um lançamento da Apple, sabem logo o que vou dizer, para justificar a compra: “Estou velhinho, preciso me manter atualizado”. Essa certeza de que a indústria viria correndo atrás de um lançamento protagonizado por Steve Jobs agora está em suspense. Será que vai continuar assim? Como lidarão os sucessores com o patrimônio imaterial deixado por ele? E os fãs, não podem rejeitar tudo que pareça tentativa de substituí-lo?

Tenha você um Galaxy da Samsung ou uma máquina de escrever portátil Olivetti Lettera, como o Nizan, no mundo de hoje acabará transitando pelo universo criativo de Jobs. Afinal, o Galaxy copia descaradamente os APPs do iPhone e do iPad e a iTunes Store como matriz, enquanto Nizan nunca dispensou a finalização refinada de um Macintosh.

Job em inglês é trabalho, obra, tarefa difícil. É Nizan quem repete que criação é 5% inspiração e 95% transpiração. O trabalho plural de Jobs transpira pela Apple. E o mundo – basta abrir qualquer site – aplaude de pé \o/.

Veja também

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *