O capitalismo selvagem dos bancos, um dia após o feriadão

Acabo de retornar do Banco do Brasil, agência Djalma Batista, onde assisti a uma das mais cruéis repetições de massacre da paciência humana. Cheguei às 12h53. Fui atendido somente às 15h33. Três horas perdidas, blog parado, roteiro da CBN me empurrando para a madrugada. Estou encaminhando a senha com esses horários de atendimento ao Procon, na esperança de que isso não fique barato.

Atendo, em grande parte, ao pedido dos inúmeros outros clientes que, vendo-me ali, munido da mais genuína paciência cristã, pediram-me que fizesse algo.

Trata-se de um problema anunciado. Depois de qualquer feriado é sempre assim. Dói ver os funcionários menos graduados impotentes e os gerentes curvando-se à rotina do banco, sem acrescentar um único gesto de conforto para os clientes, inclusive porque o ar-condicionado da agência não dá vencimento a tal multidão.

Fui menor-aprendiz ou menor-estagiário, como queiram, do Banco do Brasil, e caixa do Bradesco, enquanto dava os primeiros passos no rádio. Nunca aguentei trabalhar num só lugar. Assisti, mesmo naquele tempo, quando a direção-geral era mais rígida, nomeada e apadrinhada pelo regime militar, a vários “milagres” contra os descalabros provocados pela rotina burra – aquela praticada pela chefia inerte, incapaz de qualquer traço criativo contra a desumanidade. Vi meia dúzia de estagiários sendo contratados pela agência do BB em Parintins e diminuírem os dias que os caboclos muito humildes, produtores rurais, tinham que passar na cidade à espera das migalhas oferecidas pelo Governo.

Por que, numa situação como essa de hoje, não cuidar da manutenção na central de ar? Ou destacar dois ou três funcionários dos serviços gerais para distribuir água entre os clientes, massacrados pela espera e o calor?

A Lei das Filas tem um defeito. A multa imposta aos bancos desaparece no caixa do Governo. O cliente, diretamente afetado em sua dignidade e cidadania, tem que esperar que os R$ 4 mil ou R$ 5 mil se tornem R$  1 bilhão para ganhar uma ponte ou, menos, R$ 5 milhões para ganhar uma escola ou… um monumento. Se a lei determinasse que 40%, por exemplo, fosse para o bolso do ofendido, aí então seriam tantas ações na Justiça que os bancos se veriam, em pouco tempo, obrigados a tomar precauções contra descalabros como o de hoje.

Verdade é que a renda dos bancos não vem dos pequenos clientes. O banqueiro aplica na bolsa, nos fundos de investimentos, ou empresta para grandes empresas, nacionais ou multinacionais. Nossos couros-de-rato não representam nada para eles.

Faça como eu e pegue seu papelzinho, onde o banco é obrigado a colocar a hora da sua chegada e do seu atendimento, e leve ao Procon. Vamos punir a crueldade desse atendimento. Eles faturam bilhões. O cliente é só bucha de canhão, para tentar oferecer verniz menos desumano à selvageria do lucro.

Vá ao Procon. Não deixe por menos. A cidadania agradece.

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3 comentários

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  1. Elliot G Murray disse:

    Não querendo defender os bancos, que tem a sua parcela de culpa, há de observar que o cidadão tb tem a parcela de culpa numa situação em que o banco fica refém. A de todo mundo querer ser atendido num curto espaço de tempo, 6h/dia, e geralmente na data de vencimento de sua obrigação. Há que se estabelecer mecanismos de defesa para o consumidor e para os bancos. Ora, se a agência está cheia e a media de tempo de atendimento já alcançou o limite legal, prq então o cliente não procura outra agência? Porque o cliente não foi um ou dois ou três dias antes do vencimento? Gritar e criticar é fácil. Bata nesses deputados e senadores, e no próprio povo, que não procura uma saída adequada para o problema. Água, Luz, Telefone, TV por assinatura e etc, oferecem datas de vencimento a gosto do cliente, caixas eletrônicos e cartões de débito são oferecidos fartamente, sem falar no pagamento agendado e pela Internet, então porque tantas filas ainda existem??? O povo sofre por que quer e por que elege gente incompetente (intelectual e moralmente) para representá-lo.
    Não esquecendo que os próprios bancários fazem parte do povo, não são ETs que todos os dias baixam na terra para nos torturar.

  2. gado disse:

    Quem sou eu parado na fila do banco, impotente, iludido, fraco, derrotado, submisso, explorado, espoliado, desamparado e sem fé, para lutar contra os mestres do universo?

    E o pior de tudo: marcos santos, voce tambem esta na fila? Então, ttamos ttodos fu…

  3. Silvio Garcia disse:

    Os Bancos parecem pagar milhões para terem sistemas que torturam os clientes! Acessar uma ocnta jurídica no Bradesco ou Santander só pelo sistema Windows e usando internet explorer, são tantas senhas e autorizacoes e no final muitas vezes um simples pagamento nao se consegue fazer sem ter que ir na agência pessoalmente! Felizmente descobri a alegria de viver novamente no Banrisul: uma só senha e pronto! Nada mais, tudo está liberado para o cliente pagar transferir, em fim usar o seu dinheiro! Eu até achava que eu estava ficando louco ou com mania de perseguição. Que o problema não era mais a falta de dinheiro e sim tê-lo em um banco!!!