Paulo Renato, Itamar e FHC

O ex-ministro da Educação Paulo Renato e o presidente Itamar Franco faleceram, nos últimos dias. Fernando Henrique Cardoso (FHC) completou 80 anos. Aí choveram elogios aos três. Seria otimismo demais achar que o reconhecimento vai virar praxe no País, mas, sem dúvida, avançamos mais um tiquinho.

Paulo Renato foi o responsável pela mudança no Ensino Superior brasileiro. Contra os arautos da “educação pública e gratuita”, ele abriu a educação para as faculdades privadas. O Amazonas, por exemplo, admitia anualmente apenas 1,5 mil alunos na Ufam, então UA. Vencer essa batalha era uma guerra que motivava choro e ranger de dentes. Hoje, todos os anos, mais de 60 mil têm acesso aos cursos superiores. A ação de Paulo Renato flexibilizou também a abertura de Universidades Estaduais, de onde surgiu a UEA.

Hoje, com uma universidade privada em cada esquina, tem até aquela piada sobre esse diálogo, ao telefone:

– De onde está falando, por favor?

– Faculdade fulano de tal.

– Ah, desculpe, foi engano.

– Engano uma ova, você já está matriculado!

Discuta-se a qualidade. É um passo que estamos obrigados a dar. Mas a retirada desse gargalo da educação nacional é inegável. E ele se deve, em grande parte, a Paulo Renato.

O ex-presidente Itamar Franco era tido como um homem vaidoso, cheio de vontades, capaz de parar uma votação importante porque estava chateado com o almoço. Foi, porém, grande o suficiente para, em meio à crise do impeachment de Collor, que sucedeu, permitir que FHC e Pedro Malan estabelecessem os fundamentos e lançassem o Plano Real, base da estabilidade econômica que se estende por mais de 16 anos.

FHC, em seu aniversário, recebeu até carta com elogios da presidente Dilma Housseff. Foram tantos elogios, de tantas frentes que, irônico e bem-humorado, chegou a indagar: “Ué, eu já morri?”

Verdade é que este grande brasileiro tirou da frente alguns dos maiores problemas nacionais, o maior deles a inflação, numa hora em que a vida no País estava ficando insuportável. Basta lembrar que telefone era um artigo de luxo, investimento, um item a ser declarado no Imposto de Renda. Celular, quando lançado, era tão raro que dois endinheirados iam para restaurante, sentavam em mesas diferentes e um ligava para o outro, em busca de dar utilidade ao equipamento.

Lembro bem que Sérgio Motta, então ministro das Comunicações, foi ao Roda Viva, da TV Cultura, e quando disse que “em dez anos as operadoras de telefonia estariam brigando para dar um telefone aos brasileiros, de graça” todos na mesa soltaram gargalhadas.

Senti falta de uma coisa, em meio a esse avanço civilizatório quanto ao reconhecimento do mérito: elogios ao Lula. Quando manteve a política econômica, de um lado, e reuniu tudo o que havia de social no Governo FHC, estruturado pela então primeira-dama Ruth Cardoso, transformando no Bolsa-Família, ele consolidou conquistas e promoveu a inclusão de bolsões populacionais até então excluídos.

Todos esses homens públicos cometeram erros. Há muita gente pronta para falar disso. O que faltava ao Brasil era a capacidade de reconhecer os avanços e os responsáveis por eles. Tomara que esse tempo esteja ficando para trás.

 

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1 comentário

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  1. Lucio Lopes disse:

    Boa, Marcos Santos. Parace que estamos ficando mais civilizados. Precisamos colocar a verdade de novo na pauta e não deixar que figuras como Lula tentem se apoderar de tudo que foi feito pelos outros como sendo seu.