Histórias do vinho

Algumas histórias que a gente vai aprendendo sobre essa bebida divina (dos deuses não, afinal, nós acreditamos num só Deus. Não é?), que testa os limites do homem. Grande parte dessas histórias resultam de uma boa conversa com uma das estrelas do momento, enólogo da portuguesa Quinta do Crasto, Manoel Lobo:

1) Uma plantação destinada à produção de vinho precisa ser mantida no limite entre a vida e a morte. Só assim, no momento certo, dará as uvas com o máximo de qualidade;

2) O Douro, em Portugal, ou Duero, na Espanha, onde nasce, tem vinhos e produtores da moda, como a Vega Cecília, no lado espanhol, com o Único (vinhaço!), e a Quinta do Vale Meão, que produz o vinho com seu nome e o mais famoso da terra de Camões, o Barca Velha. Além, claro, da Quinta do Crasto;

3) O principal vinho da Quinta do Crasto é o Maria Teresa, produzido apenas em 1998, 2001, 2003, 2005 e 2007, tendo obtido, em 2005, 96 pontos de Robert Parker. Maria Tereza é um nome representativo (minha esposa) e fui saber mais a respeito:

– Trata-se de uma minúscula vinha, que pode ser observada de perto do umbral da belíssima propriedade principal da Quinta do Crasto;

– A profissionalização da vinicultura levou os produtores a pedir um trabalho de catalogação de cada uma das árvores que compõem a vinha, por uma equipe de especialistas franceses. Já foram descobertas 32 espécies de uvas e cada uma delas está sendo reproduzida, em jardim clonal, para substituir a original que venha a morrer. O trabalho ainda não está concluído;

– A vinícola está chegando aos 100 anos;

– Não é, portanto, apenas “charme” do produtor quando ele deixa de colocar os nomes das uvas que fazem parte da composição do vinho. Nesse caso, o rótulo seria verdadeira sopa de letrinhas;

4) Quinta do Crasto Vinhas Velhas é um nome que se deve à idade do vinhedo de onde se retiram as uvas para esse vinho. Todas estão perto dos 200 anos de vida. Crasto Superior tem esse nome porque as vinhas estão na mais elevada altitude da propriedade do Crasto, algo acima dos 950 metros;

5) Donos das “garrafeiras” (Portugal) ou de qualquer loja de vinho têm como principal investimento guardar vinhos nos quais, ao beber, encontram potencial para desenvolvimento, com o passar dos anos. Esses vinhos valorizam, em média, 10 euros por ano, mas alguns dão um salto, quando uma revista como Wine Spectator ou Wine Magazine ou um enófilo como Robert Parker escrevem uma crônica ou dão uma nota alta para ele;

6) Donos de lojas especializadas em vinho, no Velho Mundo, acabam se tornando fanáticos pelo produto. Um deles, com quem conversei longamente, disse-me que esconde certos vinhos para que “curiosos” não possam adquiri-los: “O sujeito não entende nada de vinho, não vai apreciá-lo, mas como está na prateleira ele passa a mão e leva para casa. E quando o sujeito mostra que conhece e pede determinado rótulo, também não vendo mais de uma garrafa de um grande vinho. É um crime.” É gente assim que mantém o romantismo do vinho.

Dica extra: uma das maiores lojas de vinho do mundo, a Lavinia, que pode ser encontrada em Barcelona, Madri, Paris, Washington e Nova Iorque, entre outras cidades, está lançando uma novidade no mercado, na loja de Paris: distribuiu máquinas no salão de entrada onde centenas de garrafas ficam à disposição do cliente; basta adquirir um cartão no caixa, entre 5 e 30 euros, para degustar os vinhos; o mais caro é um Chateau Mouton Rothschild 1970; a dose de 30 euros é um dedo no fundo da taça; para quem é enófilo é um prato cheio.

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