No pós-eleição até mesmo quem ganhou de lavada pode acabar não levando

Quem pratica esporte ouve muito que “treino é treino e jogo é jogo”. O pessoal das artes marciais até acrescenta que “treino é treino, luta é luta e porrada é porrada”. Acho que a última frase é mais adequada ao momento de ringue político, quando quem ganhou procura levar e quem perdeu explora ao máximo as brechas do sistema para não sucumbir de vez.

Há exemplos por todos os lados, mas, para não tornar tão longo esse post, prefiro me concentrar em Eduardo Braga X Alfredo Nascimento.

Eduardo foi o grande vencedor da eleição. Conseguiu que seu governo passasse incólume, indiscutível, depois que Alfredo caiu na esparrela de direcionar seu foco para Omar Aziz, tentando convencer o eleitor de que, entre junho e setembro, seria possível destruir o que foi feito em sete anos. Essa foi a razão da repetição do batido “vou continuar tudo o que esse governo fez de bom e corrigir os erros”, transformado em mote da campanha alfredista.

Por essas e outras, o ex-governador do Amazonas elegeu o sucessor, Omar, único na face da terra capaz de mandato sob medida para deixar o caminho aberto à sua volta, em 2016, uma vez que, governador, gastou este ano mesmo o cartucho da reeleição. Braga fez mais: sua primeira suplente é a esposa, Sandra Braga, um conforto familiar cujo evidente nepotismo também passou em brancas nuvens; o segundo suplente Lírio Parisotto garantiu fontes para injetar o que fosse preciso na campanha; e a eleição de Vanessa Grazziotin é um poderoso troféu político diante de Lula e Dilma.

Tudo isso, mais os altos índices de aprovação com que encerrou a administração, óbvio, tornariam Eduardo Braga praticamente imbatível, na campanha da volta ao Governo do Amazonas, em 2010.

A única nuvem, nesse céu de brigadeiro, é se o senador Alfredo Nascimento conseguir impor sua proximidade com Dilma Rousseff e a “amizade” com Valdemar da Costa Neto, dono do PR, para emplacar a volta ao Ministério dos Transportes.

É inegável que Alfredo conhece o caminho das pedras. Ninguém pode esquecer como foi difícil voltar ao cargo da última vez, o que só ocorreu meses depois do início do segundo mandato de Lula, mas ele conseguiu. Nem que a readmissão ministerial entrega mais uma vaga fidelíssima, digamos, ao presidente regional do PT-AM, João Pedro.

Imaginemos então que Alfredo volte a ser ministro dos Transportes – o que parece difícil, mas não é impossível –, consiga asfaltar ou efetive uma rodovia no leito da BR-319, duplique a BR-174 até Presidente Figueiredo, com canteiro central, iluminação e acostamento, e desate a construir portos DECENTES no interior do Amazonas. Seria uma mudança de postura administrativa da água para o vinho, mas quatro anos são mais que suficientes para isso.

Melhoria mais ainda sua condição política se colasse o nome à prorrogação da Zona Franca de Manaus, que Dilma prometeu em campanha – eu não vi, nem ouvi, mas, como disseram que ela prometeu, deve ter prometido.

O jogo estaria zerado ou, no mínimo, a sucessão de 2012 deixaria de ser favas contadas e voltaria a se tornar uma incógnita.

Braga, que ganhou tudo, no lugar da moleza esperada, teria que lutar muito para levar o prêmio maior pela vitória de 2010, a volta ao Governo do Amazonas. Daí toda essa luta para impedir que Alfredo vire ministro.

Tomara que o amazonense ganhe alguma coisa com isso.

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