A morte de Wendell e Dândari

Wendell Colares dos Santos, conhecido na noite como “Dândari”, codinome com o qual se travestia e fazia programas homossexuais, morreu na madrugada de domingo, violentamente, na esquina das avenidas Rio Branco e Djalma Batista, no Vieiralves. Por trás do crime, noticiado como mais um nas estatísticas de assassinatos da cidade, estão dois recordes juvenis do atletismo amazonense mantidos há mais de 10 anos e um sofrido drama humano.Leia a matéria sobre a morte de Wendell no site da CBN: http://bit.ly/aBwNnk (copie e cole no seu navegador/browse).

Conheci essa história quando fui editor de esportes de A Crítica. Wendell revelou, voltando do Campeonato Mundial de Atletismo Júnior de 1998, em Annecy, na França, onde integrou a seleção brasileira de atletismo, que tinha problemas financeiros e só permaneceria no esporte se encontrasse patrocinador capaz de rivalizar com o dinheiro que recebia fazendo programas nas ruas. Há quem diga que exagerou, mas, na época, dizia que ganhava R$ 3 mil contra uma bolsa esportiva de R$ 400.

Bem-humorado, Wendell afirmava que o atletismo servia para correr dos homofóbicos nas ruas.

Por trás dessa história, que terminou de forma tão trágica, há várias revelações. Todo um trabalho feito no esporte amazonense, no século passado – inclui-se aí vôlei, futsal, handebol, atletismo e até o futebol – foi por água abaixo no Século XXI, a partir do momento em que as secretarias estadual e municipal de Esportes se transformaram em meros cabides de acomodação política.

Quantos outros talentos iguais ou até superiores aos de Wendell não terão sido perdidos nesse processo? Esse rapaz, com o potencial que demonstrava, podia ter representado o Brasil numa Olimpíada, a partir de 2000.

Por outro lado, e talvez até mais importante, como é que a nossa sociedade pode se declarar sã, se perde alguém para o submundo de forma tão explícita? Se criamos alguém com uma auto estima tão baixa é porque não estamos sendo capazes de oferecer um ambiente onde a competição se dê por meios mais humanos – a educação, por exemplo – e a possibilidade de ganhar dinheiro fácil perca a força que manifestou na vida do atleta.

Não entro na onda de carimbar Wendell. Não acho que tenha sido “vocação para a safadeza” que o empurrou para a morte. Analisar por aí é um caminho fácil. Temos é que pôr a mão na consciência e reconhecer que a mão dele foi estendida e não soubemos recolhê-la para oferecer a segurança que pedia. E ele oferecia em troca um atleta, unzinho a mais, no deserto árido desse produto em que se tornou o Amazonas. Onde Sandro Viana, casado, pai, tem que lutar muito para continuar. Como Dândari lutou. E perdeu.

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Comentários

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  1. Luiz Borges disse:

    Quem conhece.. conhece, realmente as suas palavras expressão a dimensão do que esta trágica História do ex-atleta Wendel foi para o esporte amazonense, haja vista que é tão díficil conseguir se achar um futuro campeão, quanto mais conseguir lapidá-lo. Fiquei triste com o acontecimento, mas suas palavras descrevem a dura realidade do esporte amazonense e brasiliero.
    Agora caro Marcos, pasme, pois nós teremos em 2016 as Olímpiadas do Rio.

  2. Fred Creder disse:

    Prezado Marcos,

    Tenho sido um crítico pessoal da postura da CBN em relação a notória imparcilidade em determinados assuntos que não vem ao caso comentar neste momento.
    Observei também, para não ser discortês, a inexpêriencia da CBN Manaus no caso do dentista Milton César, ao AFIRMAR situações que não condizem com a verdade, como “O dentista foi a casa da vítima para ASSASSINA-LA”…não que ele seja vítima ou santo, mas, antes de afirmar, os fatos devem ser apurados para daí virem as afirmações…
    Deixando esse comentário de lado, gostaria de lhe render meus sinceros parabéns pela BElÍSSIMA homenagem prestada ao atleta Wendel, o qual não conheci, mas é que, como corredor cinquentão amador, conheço algumas histórias de sucessos, motivadas por determinação individual de uns poucos abnegados, e também observei menos de perto e com menos propriedade a decadencia do “ESPASMO” de política pública voltada ao esporte, iniciada no século passado e seu total abandono e deterioração nos governos que se sucederam…é uma pena.

    Parabéns pelo belíssimo comentario…

    Fred Creder

    RESPOSTA:
    Caro Fred,
    Obrigado pelo elogio, mas vasculhei o site da CBN e nossos blogs, meu e do Ronaldo, sem encontrar onde está a frase “o dentista foi à casa da vítima para assassiná-la”. Por favor, diga-nos onde está com mais precisão (se possível copie o endereço e mande-nos) para que possamos revê-la. Afinal, trata-se de um erro crasso porque, sem entrar no mérito da culpa – esse papel é da Justiça -, foi a perita quem foi à casa do dentista.

    Abraços,

    Marcos Santos

  3. Ronaldete disse:

    Marcos,parabéns pelo brilhante profissional que és!! Sempre cobrando soluções para as questões espinhosas do poder público com muita imparcialidade como “deve ser”. Marcos, precisei ir até a Federação de Natação do Amazonas para pegar uma declaração p/ o meu filho e pasme, na Vila Olímpica ninguém soube me informar, da portaria passando por alguns funcionários que ficam papeando naqueles dois primeiros blocos e os jardineiros que encontrei no decorrer do caminho até o local onde ficam as piscinas, nada, é impressionante o desconhecimento total do órgão procurado! Só uma pergunta, existe Federação aqui no estado? onde ela fica? Isso é um serviço de utilidade pública; Muito obrigada pelo espaço e bom trabalho.

  4. Beto Tavarovsky disse:

    Caro Marcos, Boa Noite.

    Salvo entendimento contrário, a notícia que bombou por toda a semana foi o envolvimento do Goleiro Bruno no desaparecimento da mãe de seu suposto filho.O que é a vida, lembro que em um programa em anos passados, o amigo, que é declaradamente rubro-negro, descreveu a emoção que o Maracanã foi tomado quando de uma magistral cobrança de falta executada por Bruno que levou a equipe flamenguista à vitória.
    A vida é curiosa; o ser humano tem uma clara influência do momento e da forma como a informação chega até ele.

    O fato é que, da mesma forma como no caso envolvendo o Casal Nardoni; o goleiro Bruno já está, previamente, condenado pela opinião pública…

    Infelizmente, mesmo com a presunção de não culpabilidade prevista na Constituição Federal de 1988, não há como ela sobreviver ante à massificante exploração do sensacionalismo.
    Será isso um indício da respristinação dos efeitos ilimitados da teoria da bala mágica de Harold Lasswell…

    Um abraço do tamanho do Amazonas.

    Beto Tavarovsky.

    Manaus-AM.

  5. Fred Creder disse:

    Caro Marcos,

    Desculpe a demora pelo retorno da sua msg, mas se vc acessar a gravação do programa da CBN da manhã imediatamente seguinte ao delito, vc ouvirá atestar com certeza o que estou dizendo…
    Faço isso apenas como uma crítica construtiva…

    Abraços,

    Fred Creder